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A Alemanha luta por sua identidade

No aniversário da 2ª Guerra, populistas de direita obtiveram votações históricas no leste alemão. Um sinal de que a Alemanha ainda luta para definir que tipo de país deseja ser, opina a editora-chefe da DW, Ines Pohl.

Manifestação organizada pela AfD em Berlim em maio de 2018

Nas primeiras horas do dia 1° de setembro de 1939, os alemães deram início à Segunda Guerra Mundial ao atacarem a Polônia. O conflito deixou milhões de mortos, feridos, mulheres estupradas e refugiados – e um mundo que ainda sofre os efeitos da fúria destrutiva dos nazistas.


Exatamente 80 anos depois, um partido alemão que travou uma campanha com um programa repleto de ideias nacionalistas e teses racistas está celebrando resultados de dois dígitos. O Alternativa para a Alemanha (AfD) obteve neste domingo nos estados da Saxônia e de Brandemburgo seus melhores resultados em nível estadual  desde a fundação da legenda.


Em apenas alguns anos, a agremiação conseguiu deixar o papel de pequena legenda marginal para se tornar a segunda maior força nos parlamentos desses dois estados. Não é suficientemente tranquilizador que os populistas de direita não tenham sido bem-sucedidos em conquistar a primeira posição na Saxônia, como chegaram a prever algumas pesquisas.


Os grandes partidos perdem força

E o que isso diz sobre a Alemanha, quando em tempos de prosperidade econômica e em uma paisagem política relativamente estável um partido desses consegue tanto sucesso? E o que podemos esperar quando os tempos mudarem e a Alemanha se ver envolvida na espiral de uma recessão mundial? Quais medidas estão disponíveis para prevenir o pior? O quão forte é a convicção de que na Alemanha nunca mais um partido formado em sua maioria por racistas pode assumir responsabilidades governamentais?


Os dois principais partidos tradicionais da Alemanha, a União Democrata-Cristã  (CDU) de Angela Merkel e o Partido Social-Democrata (SPD), obtiveram seus piores resultados na Saxônia e em Brandemburgo desde a reunificação. Na prática, isso significa que na estável Alemanha será cada vez mais difícil conseguir formar coalizões de governo. Também mostra que esses dois grandes partidos populares perderam a sua velha capacidade de reunir uma grande quantidade de votos no vasto espaço que existe entre a extrema esquerda e a extrema direita. 


Isso ainda mostra como a Alemanha tem encontrado dificuldades para definir que tipo de país ela deseja ser. Que tipo de política de refugiados pretende levar a cabo, sem mencionar ainda as grandes questões econômicas e sociais do nosso tempo? O quão soberana deve ser a Alemanha e o quão europeia?  


Arrogância dispensável

É parte da natureza da historiografia que só podemos reconhecer a posteriori o peso de um acontecimento em um determinando momento histórico e avaliar qual foi seu impacto no futuro. Nesse sentido, só podemos especular sobre como os livros de história vão abordar o 1° de setembro de 2019.


Mas uma coisa é certa: esses resultados vão estimular a AfD em nível nacional. Ela se tornou uma força e não vai desaparecer de um dia para o outro. Vai ser preciso que as outras legendas encontrem uma maneira de lidar com isso. Encarar o sucesso alheio com arrogância e desprezo será um erro fatal. Esses resultados demonstram de maneira brutal aos líderes políticos da Alemanha que algo não está indo bem no país e que eles devem observar e escutar com mais atenção para entender o que empurra os eleitores para os braços dos populistas.


No entanto, existem princípios inegociáveis que são a base da nossa responsabilidade histórica. Entre eles estão a liberdade religiosa e o direito à concessão de refúgio para pessoas em situação de emergência. E esses princípios não podem ser sacrificados, não importa o quão difícil será a formação de um governo.


Fonte: Deutsche Welle

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