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A globalização da demência

Atentados assim, que há cerca de 15 anos eram um fenômeno restrito quase exclusivamente aos EUA, começam a proliferar em países que pareciam estar a salvo, por mais que padeçam de outros tipos de violência


Nesta segunda-feira (18/3), na localidade holandesa de Utrecht, um indivíduo abriu fogo de forma indiscriminada dentro de um bonde: assassinou três passageiros e feriu cinco. Apesar de não haver certezas sobre o motivo do ataque, as autoridades de Amsterdã desde o começo trataram o caso como um ato de terrorismo.

Dias antes, na cidade de Christchurch, na Nova Zelândia, um defensor da supremacia branca, atuando sozinho, assassinou meia centena de pessoas, entre elas mulheres e crianças, que participavam em uma liturgia em duas mesquitas.

Antes disso, no Brasil, dois jovens armados com um revólver e várias armas brancas dispararam contra alunos e empregados de uma escola pública de Suzano, na Grande São Paulo, e produziram um saldo de oito mortos e dez feridos. Logo, se suicidaram.

À primeira vista, estas três tragédias podem ter poucas coisas em comum, embora a mais importante seja assustadora: a dolorosa perda de vidas humanas através da brutalidade irracional dos assassinos. Inclusive, os casos de Utrecht e Christchurch parecem ser sinais opostos, pois na cidade holandesa, o atirador seria supostamente motivado por alguma corrente fundamentalista islâmica, enquanto o atentado na Nova Zelândia foi claramente cometido por um fundamentalista cristão que confessou sua islamofobia. Já com respeito ao ataque à escola brasileira, o que se diz é que os jovens assassinos eram ex-alunos do estabelecimento, e é possível que tenham atuado em função de um exacerbado e patológico ressentimento.

O fato é que este tipo de atentado, que há cerca de 15 anos eram um fenômeno restrito quase exclusivamente aos Estados Unidos, começam a proliferar em países que pareciam estar a salvo, por mais que padeçam de outros tipos de violência, como acontece no Brasil, ou mesmo em países considerados bastante mais pacíficos, como os Países Baixos e o arquipélago da Oceania.

A contraproducente guerra contra o terrorismo, iniciada pelo ex-presidente George W. Bush após o atentado de 11 de setembro de 2001 foi o caldo de cultura que se gerou uma crise social mundial, que por sua vez criou as condições nas quais se produziu uma onda de atentados de grupos que se consideram vítimas dessa guerra, e que causaram centenas de mortes em países como Espanha, Inglaterra, Noruega e França, primeiro com explosivos e depois através de atropelamentos massivos, ou com tiroteios em lugares públicos.

Com uma frequência crescente e aterradora, e em distintos continentes, se realizam ataques de extremistas, sejam eles muçulmanos ou islamofóbicos, ou também homofóbicos, ou simplesmente desequilibrados, que abrem fogo com a finalidade de causar o maior número de baixas mortais.

Além de entender o efeito de imitação dos periódicos homicídios em massa cometidos nos Estados Unidos, é preciso assumir que assistimos à proliferação de sujeitos que, movidos ou não por extremas distorções ideológicas, não são capazes de ver nas outras pessoas mais que corpos humanos aos que é correto lesionar ou assassinar.

O fenômeno deve ser analisado e compreendido, para evitar a repetição – e a banalização – das matanças. Em termos imediatos, parece que representam o sintoma de uma crise civilizatória de escala planetária.

*Publicado originalmente em lajornada.com.mx | Tradução de Victor Farinelli


Fonte: Carta Maior

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