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ADEUS - Elmar


Elmar Altvater, um dos mais conhecidos e respeitados pensadores marxistas da Alemanha, morreu no primeiro de maio deste ano. No âmbito da Universidade Federal, o Professor emérito do Otto Suhr Institut (OSI) da Universidade Livre de Berlim tinha se tornado nos anos 80 do século passado um visitante frequente.


  • Participou de diversos seminários e simpósios sobre a crise da divida externa e os seus impactos para o desenvolvimento da América Latina,

  • Incentivou a assinatura de um convenio de cooperação entre a Universidade Livre e a UFPA, assinado por parte da segunda pelo então Reitor Prof. Dr. Daniel Coelho de Souza e

  • Realizou o seu ano sabático em Belém no Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, uma atividade que resultou na publicação de um livro de suma importância sobre as modalidades e a dinâmica da inserção da Amazônia no sistema político econômico (inter)nacional.

Cheguei a conhecer o Elmar na Alemanha nos anos setenta durante a nossa militância no Sozialistisches Buero (SB) que integrava socialistas e democratas dos mais diversos campos da sociedade nacional (universidades, sindicatos, profissões liberais, serviço público, meios de comunicação etc.). Insistia, por sua vez, na necessidade de redescobrir o caráter subversivo das categorias analíticas do pensamento marxiano, escamoteado especificamente pelo regime stalinista na União Soviética que, diante dos problemas gigantescos que enfrentava durante o seu caminho não-capitalista ao desenvolvimento industrial, tinha transformado o marxismo numa teoria de modernização e, em consequência disso, num instrumento de legitimação do poder da nova nomenclatura do Estado Soviético.



E, a partir daí, tematizava a necessidade imperiosa da esquerda se livrar das cegueiras e das imposições de um sistema de poder global que estava determinado pelo conflito sistêmico entre os Estados Unidos e a União Soviética.


Tive o privilégio de participar de forma ativa no SB de Muenster, cidade, onde defendi a minha tese de doutoramento, em debates sobre tais questões. Inclusive, em momentos em que a presença de conferencistas renomados deram um brilho especial a esta cultura de discussão. E entre estes mesmos conferencistas se destacaram intelectuais como Elmar Altvater ou Rudi Dutschke. O último, por sua vez, o principal líder do movimento estudantil nos anos sessenta na Alemanha que, depois de ter se recuperado das sequelas de um atentado que sofreu em 1968, começou a interferir na política alemã, de novo, a partir de 1974, se tornando um frequente e querido visitante do SB de Muenster e dos seus debates políticos. Intelectual de primeira qualidade, internacionalista nato, dono de uma postura ética invejável e de uma oratória brilhante, Dutschke morreu em 24 de dezembro de 1979, com apenas 39 anos. Sofreu um ataque epilético, enquanto tomava banho, que o levou à morte por afogamento. No seu enterro encontrei o Elmar em Berlim, compartilhando no dia 3 de janeiro de 1980, com milhares de pessoas a tristeza pela perda de uma personalidade tão singular da esquerda alemã.


Faz parte das imponderabilidades da vida que a minha ida ao Brasil no final do mesmo ano aprofundou a minha relação com Elmar Altvater. Em 1981, o Instituto Goethe do Brasil tinha convidado o ilustre Professor do OSI da Universidade Livre de Berlim para um ciclo de palestras sobre a crise da divida externa na América Latina. E considerando que os organizadores deste evento não conseguiram mobilizar um público suficiente em Salvador Bahia, eu, em minha condição de Coordenador da Casa de Estudos Germânicos, foi perguntado se quisesse dispor da presença dele em Belém por uma semana além do previsto. Aceitei esta opção com uma enorme alegria, organizando seminários bem frequentados e extremamente interessantes sobre a mencionada problemática. Foi a partir daí que começou a inserção altvateriana na Universidade Federal do Pará...

Elmar, companheiro e amigo de longa data, a sua lucidez intelectual e a sua coerência política vão fazer uma enorme falta para uma esquerda que não abre mão do imperativo categórico de mudar “todas as relações, nas quais o homem é um ser humilhado, subjugado e desprezível.” (Marx).


Thomas A. Mitschein

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