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As faces da Greve Global pelo Clima

Em 20 de setembro começa uma semana de mobilização pelo clima. Espera-se que ação atraia milhões de manifestantes em todo o mundo. DW conversou com participantes de vários países sobre o que os levou a protestar.

DW quer saber o que leva pessoas de todo o mundo a ir às ruas protestar pelo clima

Nesta sexta-feira (20/09), milhões vão às ruas em todo o mundo, como parte da mobilização que ganhou a alcunha de Greve Global pelo Clima, um protesto de uma semana iniciado pelo movimento Greve pelo Futuro (nome internacional: Fridays for Future). Os organizadores exigem o fim dos combustíveis fósseis e que os governos implementem o Acordo Climático de Paris.


Por mais diversos que os impactos da crise climática possam ser para cada região, manifestantes de todo o mundo estão se unindo para exigir medidas mais rápidas e drásticas de seus governos.


A DW conversou com vários participantes, do México às Filipinas, sobre o que os motivou a se unir aos protestos em massa.


A gerente de produção
"Vivenciamos o cenário 'dia zero', quando as torneiras estarão fechadas." (Chantal Dette, 20 anos – Cidade do Cabo, África do Sul)

"O que mais me motiva é que, há cerca de um ano, meu país sofreu escassez de água e estiagem. Vivenciamos o cenário 'dia zero', quando as torneiras estarão fechadas. Moradores de Cape Flats [área na Cidade do Cabo] estavam realmente sofrendo com a situação.


Sou uma pessoa de cor e vivo numa comunidade realmente acostumada à violência e ao crime. Se esse 'dia zero' chegar, as pessoas das áreas mais privilegiadas poderão instalar poços em suas propriedades – o que é muito caro – enquanto as torneiras dos desfavorecidos vão, literalmente, secar. Isso foi muito assustador para mim.


Não acho que a mudança climática possa ser separada das questões sociais. É uma questão social. É uma questão de justiça humana, de direitos humanos, de justiça hídrica, de segurança alimentar. Ela afeta todos os aspectos de nossas vidas."


O taxista
"Farei tudo ao meu alcance para dirigir ecologicamente." (Emilio Barco de la Rosa, 29 anos – Madri, Espanha)

"Todo verão, eu costumava viajar com meu pai para muitos países – muitos. Estivemos na França, na Itália, na Holanda, em Luxemburgo, na Bélgica. Adoro dirigir e adoro conhecer novos lugares.


Meu pai foi motorista de táxi, e agora eu também sou taxista. Para o meu negócio, decidi dirigir um carro ecológico, um híbrido de motor elétrico e a gasolina. Se tivéssemos uma economia sustentável, teríamos que impulsionar ainda mais as alternativas já existentes e também oferecê-las a um preço acessível.


Exijo que as companhias que ainda fabricam veículos com altos índices de emissões assumam tanta responsabilidade quanto eu. Estamos pensando em iniciar uma campanha com alguns outros motoristas. Queremos oferecer nosso serviço gratuitamente por uma semana, para podermos informar aqueles que não estão protestando.


Também quero mudar a imagem que têm os taxistas."


A especialista em seguros
"Somos ricos e estamos vivendo muito encasulados." (Sherebanu Frosh, 42 anos – Nova Délhi, Índia)

"Nós somos os ricos, você sabe. Infelizmente, vemos que gente como eu está queimando combustíveis fósseis de forma desproporcional, produzindo uma quantidade desproporcional de emissões, com que então o resto da Índia sofre. A principal coisa que me motiva é a poluição do ar, porque agora meus filhos são pequenos e no momento o que eles estão respirando é ar ruim.


O que acontece em nível local é que todo mundo está tentando salvar suas próprias matas e árvores. Tudo isso está sendo ameaçado pelo governo, que tenta vender bolsões das florestas.

Estávamos nos esforçando tanto para os pais saírem e lutarem por seus filhos. Tentamos, tentamos, e só conseguimos que três ou quatro venham.


Sinto que, como pais, não fizemos jus ao que podíamos ter feito, como um dever perante os nossos filhos. Mas as crianças estão tomando a frente, e isso é sensacional."


O fornecedor de gêneros alimentícios
"Havia muitas frutas e legumes que costumávamos cultivar, mas agora não é mais possível." (Wessim Khiari, 25 anos – Túnis, Tunísia)

"Estou trabalhando com agricultores. Eles estão realmente sofrendo com a situação. Às vezes não temos água, e às vezes estamos nos afogando em chuva. Havia muitas frutas e legumes que costumávamos cultivar, mas agora não é mais possível."


Os verões estão mais longos e mais quentes, e o inverno não é mais inverno. Em vez de cultivar tomates durante cinco meses por ano, agora só é possível cultivá-los por dois meses. Muitos agricultores não entendem a conexão entre seus problemas e a poluição ambiental.


Temos muita indústria poluente. Mesmo se mudarmos nosso comportamento ou tentarmos convencer as pessoas a serem mais cuidadosas com o meio ambiente, isso não será suficiente. Temos que agir em nível maior.


No momento estamos elegendo um novo parlamento e um novo congresso, então mais do que nunca é hora de agir para mostrar aos políticos que, se não entrarem em ação, perderão futuros eleitores. Na verdade, só um dos 26 candidatos menciona questões ambientais em sua campanha."


A consultora econômica
"Você precisa assumir uma posição, quando vê que a coisa afeta vidas." (Damaris Yarcia, 43 anos – Manila, Filipinas)

"Se eu pudesse escolher qualquer ação a ser tomada imediatamente, escolheria descartar plásticos nos estabelecimentos. O lixo é um problema por aqui, especialmente quando ele chega ao oceano. Na verdade, quando chove, nosso sistema de esgoto fica bloqueado pelo lixo.


Minha consciência sobre essas coisas mudou quando um tufão passou por aqui alguns anos atrás. Foi um grande furacão e muitas pessoas morreram.


Você precisa assumir uma posição, quando vê que a coisa afeta vidas. Quero dizer, se só se vê lixo nas ruas, às vezes até se faz vista grossa. Mas quando se assiste na TV gente sendo apanhada pelas enchentes, sem conseguir fugir da enxurrada, é realmente traumático, muda sua perspectiva sobre o assunto. Torna-se algo pessoal.


Vai ser a primeira vez que vou a uma manifestação, é mais como um protesto pessoal. Para mim, realmente não importa se vai haver muitos manifestantes ou apenas um punhado, desde que haja gente disposta a se colocar."


O vigilante
"Muitos dizem que protestar não muda nada". (Eduardo Dominguez, 21 anos – Tuxtla Gutiérrez, México)

"Aqui vivemos em escassez, somos cada vez mais, e há cada vez menos produtos alimentares. A mudança climática gera pobreza. Todos os anos há mais calor, mais e mais espécies ameaçadas. O lixo também é um grande tema por aqui. As ruas estão cheias de lixo, e então tudo entra nos rios e depois no mar.


Ainda não há muito apoio aos protestos aqui. Alguns já ouviram falar das mudanças climáticas, mas ainda não se tomaram muitas medidas. Muitos dizem que protestar não muda nada, e que vamos morrer de qualquer jeito.


Mas, pessoalmente, penso no que vi das Greves pelo Futuro, que o protesto é útil. Se houver um esforço, poderá haver uma mudança mesmo contra o governo, que, nesse caso, tem grande parte da responsabilidade.


Em julho fizemos a primeira marcha. Minha principal motivação é minha sobrinha de seis anos. Gostaria que ela tivesse um futuro digno e as mesmas oportunidades que eu já tive."

As declarações foram editadas com o fim de condensá-las e torná-las mais claras.


Fonte: DW Notícias

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