O nome mais forte na bolsa de apostas é o do arcebispo de Porto Velho e presidente do Conselho Indigenista Missionário.
Há poucos dias de uma decisão nas eleições-gerais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, um assunto vem ganhando força entre o episcopado: a Amazônia e os povos da floresta. Um grupo de bispos da região está movendo as peças no tabuleiro para emplacar a vice-presidência da entidade.
Até agora, o nome mais forte na bolsa de apostas é de Dom Roque Paloschi, arcebispo de Porto Velho e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI). No Brasil, o movimento pan-amazônico tem cerca de sessenta bispos. O encontro, aliás, também serve de preparativos para o Sínodo da Amazônia, programado para outubro e alvo de preocupação declarada do governo.
Paloschi é abertamente crítico ao presidente Bolsonaro. Em entrevista ao site da CNBB em janeiro, ele criticou o presidente por “desrespeitar totalmente a Constituição” e acabar com “toda a esperança dos pobres deste país”.
Outro nome cotado é o de Dom Mario da Silva, bispo de Roraima que teve atuação destacada no atendimento aos refugiados que atravessaram a fronteira do estado com a Venezuela.
Interlocutores ouvidos por CartaCapital atribuem o movimento a tentativa de resguardar as atividades eclesiais na região, foco de atritos entre a Igreja o governo brasileiro. O episcopado pan-amazônico teme que o governo atual, subjugado a interesses econômicos, acabe com o que sobrou da Amazônia.
Avanços do agronegócio, a venda de terras para estrangeiros, interesses farmacêuticos, investimento estrangeiro em turismo são os pontos mais críticos. Entre os assuntos internos, discute-se maneiras de manter a evangelização na região — é cogitada, inclusive, a aceitação de padres casados.
Aqui e no Vaticano, a Igreja Católica tem dedicado atenção especial à questão dos povos ribeirinhos e indígenas e da preservação da biodiversidade. Há dois anos, uma encíclica papal recomendou a redução dos impactos climáticos e cuidados quanto ao uso da terra, com citações diretas à Amazônia.
Batalha dos bispos
Os bispos estão reunidos na Catedral de Aparecida desde o dia 1º. Do encontro, serão escolhidos a equipe que comandará a entidade até 2023, sob um embate às claras entre progressistas e conservadores. O conclave vai eleger o novo presidente, dois vices-presidente e um secretário-geral, além de representantes de várias organismos e pastorais ligadas à entidade. Teoricamente, todos os bispos são candidatos.
Do ponto de vista político, a ala conservadora defende uma atuação interna, clericalista, baseada nas normas e centralizada na liturgia e na caridade.
Já o campo reformista quer uma igreja que atue extramuros, crítica à desigualdade social e que lute efetivamente contra a pobreza, por meio das comunidades eclesiais de base e de organismos como a Comissão Pastoral da Terra, o Cáritas e o Conselho Indigenista Missionário.
Fonte: Carta Capital
Comentários