Candidato do Centro Democrático, apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, ganhou o segundo turno contra o esquerdista Gustavo Petro com 54% dos votos
Iván Duque, o novo presidente de Colômbia. RAUL ARBOLEDA AFP
O conservador Iván Duque, do Centro Democrático, será o novo presidente de Colômbia. O candidato, apoiado pelo ex-presidente Álvaro Uribe, ganhou neste domingo o segundo turno das eleições colombianas contra o esquerdista Gustavo Petro com 54% dos votos e uma diferença de 12%. A Colômbia inaugura assim uma fase crucial para sua transição um ano e meio após a assinatura dos acordos de paz com as FARC, aos quais Duque pretende aplicar modificações. Tomará posse em agosto, sucedendo Juan Manuel Santos no cargo, e será o encarregado de pilotar um novo ciclo. Enfrenta o desafio de superar a polarização política, conter a violência que ainda atinge algumas regiões e melhorar a economia.
Duque chegará à Casa de Nariño [sede do governo] com um capital de mais de 10 milhões de votos —com quase o 99,5% urnas apuradas— contra os mais de oito milhões de Petro em um país dividido sobre o processo de paz. Mas, ao mesmo tempo, com inquietudes que mostram uma mudança de época. O ex-senador do Centro Democrático foi porta-voz da campanha do "não" no plebiscito sobre os acordos com as FARC celebrado em outubro de 2016. Sua proposta ganhou por uma estreita margem, o que obrigou o Governo a mudar o texto. Desde então, Duque foi moderando seu discurso, que nos últimos meses esteve centrado sobretudo na recuperação econômica e na regeneração política. Ele não pretende, afirma, “deixar em pedaços” o que foi acordado como pedem os setores mais intransigentes de sua coalizão e vai limitar as reformas a alguns aspectos relacionados ao sistema de justiça transicional.
Sua declaração de intenções, um discurso que o afasta da atitude habitual de Uribe, cristalizou-se ontem depois de votar. “Venho para ratificar um desejo. É que a Colômbia possa ser governada por uma nova geração que quer governar com todos e para todos, que quer unir o país, que quer virar as páginas da corrupção, da politicagem e do clientelismo”, disse Duque, que está prestes a completar 42 anos.
A ideia de reconciliação nacional foi um dos pontos centrais da campanha. A impopularidade de Juan Manuel Santos na última fase de seu segundo mandato como consequência do processo de paz é apenas um indicador parcial do clima que reina na Colômbia. A sociedade já começou a experimentar mudanças profundas. Mais de 7.000 combatentes das FARC entregaram as armas e se desmobilizaram, com exceção de grupos dissidentes que continuam cometendo crimes, especialmente nas fronteiras. O partido político nascido da organização insurgente, praticamente desativado pela quase absoluta rejeição que provoca nos eleitores, renunciou a participar destas eleições. E inclusive o candidato de Álvaro Uribe, o principal adversário dos acordos, preferiu concentrar seu discurso em questões próprias a um país que deixou para trás um conflito armado.
Quase 37 milhões de cidadãos foram chamados às urnas para decidir, no fim das contas, um modelo de transição. No primeiro turno, a maioria escolheu candidatos com posições ideológicas mais definidas, à direita e à esquerda. A divisão do centro político deixou de fora as opções mais moderadas, o que transformou a votação de domingo numa dança de alianças.
Duque aparecia há semanas como futuro presidente e com boa vantagem, apesar dos receios de grande parte da sociedade em relação ao seu mentor. Seu principal trunfo foi justamente o perfil do adversário, Gustavo Petro, ex-prefeito de Bogotá e ex-militante do movimento guerrilheiro M-19. “Hoje será um dia histórico. Quando se fala de história, é sempre sobre as possibilidades de mudanças reais no país, uma mudança que no fundo todos os colombianos desejam. Não acho que exista um colombiano que acredite que tudo está bem”, disse o candidato da Colômbia Humana, nitidamente de esquerda, com uma clara estratégia antiestablishment, um estilo que até seus seguidores qualificam de populista e uma antiga amizade com o falecido ex-presidente venezuelano Hugo Chávez.
Esse coquetel também não agradou muitos dos simpatizantes dos candidatos excluídos no primeiro turno, Sergio Fajardo, Humberto de la Calle e Germán Vargas Lleras. Nesse contexto, a questão central no domingo era quem receberia esses mais de seis milhões de votos. Fajardo, ex-prefeito de Medellín, anunciou que votaria em branco, assim como de la Calle, negociador dos acordos de Havana. Essa posição obteve 4,2% dos votos.
A principal preocupação de Duque é justamente a gestão do pós-conflito em um momento particularmente delicado, devido aos atrasos e ao descontentamento das bases das FARC, e coincide com a do presidente Santos, que depois de por fim ao conflito armado recebeu o prêmio Nobel da Paz. Em uma recente entrevista ao EL PAÍS, afirmou que o processo “é irreversível”. No entanto, resta saber quais serão as relações do próximo Governo com a velha guerrilha. O novo presidente também deverá resolver a negociação com o Exército de Libertação Nacional (ELN), que começou em fevereiro de 2017 e que teve poucos avanços, com exceção de uma trégua de 100 dias acordada em setembro, por ocasião da visita do papa Francisco.
Fonte: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/06/18/internacional/1529272882_814333.html
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