Dr. Thomas Mitschein, coordenador do Projeto, escreve sobre: "O Brasil e a opção amazônica num mundo globalizado em que a destruição das bases naturais da vida humana castiga especialmente as classes populares do hemisfério sul".
Conquista e exploração dos territórios periféricos do mercado mundial, iniciadas pelos ascendentes impérios do velho continente já no século XV, foram acompanhadas pela difusão de referenciais civilizatórios eminentemente eurocêntricos que justificavam o domínio político-econômico dos colonizadores europeus. Pela parte dos povos colonizados, funcionavam, no dizer de Darcy Ribeiro (2007. p. 75) “como lentes deformadoras (...) que lhes impossibilitavam a criação de uma imagem autêntica do mundo, de uma concepção genuína de si mesmos e. sobretudo, que as cegava diante das realidades mais palpáveis.”
Este processo de alienação, por sua vez a base da internalização da cultura do senhor por parte do escravo, ganhou contornos mais sólidos após a Segunda Guerra Mundial, quando, diante do desmoronamento do colonialismo da Grã Bretanha, da França da Holanda e da Bélgica e de Portugal, os novos líderes terceiro-mundistas apostavam suas fichas na inserção definitiva de suas nações emergentes na órbita da civilização industrial como suposto remédio infalível para superar as heranças malditas do seu passado colonial. Certamente, podiam escolher entre a economia de mercado de capitalismo ocidental e a economia de comando nos moldes soviéticos.
Todavia, ambos os modelos, não obstante suas divergências sobre as vias a serem adotados nas viagens do desenvolvimentismo retardatário, compartilhavam o principio de que tudo o que não se enquadrava na lógica reprodutiva da racionalidade instrumental estava atrapalhando o progresso da nação e merecidamente condenado a morrer. (Mitschein 2010) De qualquer maneira, foi a partir desta lógica generalizada que chegou-se a implantar no mundo inteiro “soluções uniformizantes (...), não hesitando em transformar a custos elevados, quando não em arruinar, os ecossistemas no propósito de torna-los aptos a receber técnicas exóticas, tais quais do Norte para o Sul” (Sachs 1986, p. 124) Contudo, tais soluções, como cabe acrescentar, encontram fatalmente o outro lado de sua moeda na acelerada destruição dos ecossistemas locais, regionais e globais que, nos dias de hoje, revela a sua dimensão dramática especialmente no âmbito da questão climática. Se os treze bilhões de gás carbônico que - de acordo com os especialistas - os oceanos e a biomassa terrestre podem absorver anualmente forem reconhecidos e respeitados como um limite natural intransponível e se, ainda, todos os 7 bilhões de habitantes (?) desta assim chamada vila global tivessem o mesmo direito à poluição destes sumidouros, neste caso ninguém poderia emitir mais do que 1,9 toneladas.
Só que, atualmente, países emergentes como a China ou a Índia já ocupam o seu lugar de destaque entre os TOP TEN dos maiores poluidores da atmosfera. E suponhamos que os 2,5 bilhões chineses e indianos emitissem per capita a mesma quantidade de C02 como um cidadão médio norte-americano, neste caso somente as suas emissões de dióxido de carbono chegariam a ultrapassar o volume de CO2 que, em 2013, o conjunto dos países do planeta tinham depositado na atmosfera. No entanto, por mais que um cenário deste tipo seja um perigo para a humanidade inteira, os seus efeitos mais nefastos afetarão, sem sombra de dúvida, a população de baixa renda daqueles países do Sul que se destacam pela sua alta vulnerabilidade à efeitos de mudança climática como inundações, secas, tempestades e a elevação do nível do mar3 , justificando a hipótese de que especialmente o mundo em desenvolvimento esteja correndo com botas de sete léguas na direção de um precipício.
Mas como encarar este perigo de maneira minimamente coerente no âmbito de um sistema político-econômico global que, através da acelerada internacionalização do capital produtivo e financeiro, tem assumido, desde os anos sessenta do século passado, a forma funcional de um arquipélago (Veltz 1996): Nele criam-se relações privilegiadas entre as ilhas de destaque (global cities) que intercambiam dia e noite informações, tecnologias e capitais com uma velocidade inédita, mas no que diz respeito aos espaços in between, estes, do ponto de vista de sua relevância econômica, se tornam literalmente terras afundadas.
E as ilhas que não cuidarem de sua competitividade sistêmica, acabam se juntando com facilidade àqueles que já vivem dentro da água. De qualquer maneira, trata-se de um sistema implacável que, após a queda do Muro 3 À titulo de exemplo, basta mencionar a passagem do Tufão Haiyan em novembro de 2013 pelas Filipinas que, poucos dias antes da realização da United Nations Climate Change Conference na cidade de Varsóvia, deixou seu rastro de devastação num país insular com um PIB per capita de aproximadamente US$ 3000. de Berlim, colocou em xeque todos os modelos de regulação político e social que tinham sido estabelecidos depois da Segunda Guerra Mundial, criando no hemisfério Sul uma dramática polarização sócio-econômica entre um reduzido número de NICS que respondem por aproximadamente um quarto do PIB mundial e o grupo dos assim chamados LDCS que, parcialmente, sobrevivem através das magras contribuições da cooperação internacional.
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Por Beatriz Ferreira
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