Como foi o processo histórico de lutas anti-imperialistas? Quais lições revolucionárias Frantz Fanon deixou para nós? Esses são um dos questionamentos propostos pela nova publicação que o Programa Interdisciplinar Trópico em Movimento lançará em breve. Trata-se da obra "Os povos colonizados: a via não capitalista ao desenvolvimento industrial e o legado de Frantz Fanon para o hemisfério sul". A autoria é do Dr. Thomas A. Mitschein, conhecido por sua trajetória de defesa a Amazônia, que possui doutorado em Sociologia, História da Economia e Ciência Política na Westfaelische Wilhelmsuniversitaet Muenster e também é coordenador do programa.
O livro conta com a apresentação do Dr. Agenor Sarraf, doutor em História Social pela PUC de São Paulo e professor da UFPA. Sarraf afirma a importância que Mitschein constrói ao olhar em diferentes perspectivas. É importante conhecer os fatores históricos para entender os porquês da dominação colonialista nas populações subalternizadas da África, da Ásia e da América, sob a regência do capitalismo. E apesar de toda exploração, pode-se encontrar resistência na luta decorrente pelas populações locais que se esforçaram em não aceitaram serem subordinadas. Sua obra dividiu-se em denunciar contradições de conceitos neoliberais e propor soluções para as problemáticas, como a emancipação social. O autor busca alinhar isso junto ao pensamento de Frantz Fanon (1968) e no pensamento ecológico de Sachs (2009).
O primeiro capítulo elucida o contraste entre metrópole e colônia (Todorov, 1982, p. 176, tradução T.M.). O sistema colonial não compactuava com a ética em sua busca por expansão e dominação. Apesar disso, os povos não aceitavam e se contraponham, mostrando sua força por meio de lutas e revoltas. Infelizmente, não houve libertação, não pela falta de vontade, mas por não estarem do mesmo nível das estratégias políticas. "Mas na medida em que, depois da subordinação do capital mercantil ao capital industrial, tinha surgido na metrópole colonizadora com o proletariado um protagonista social (...) podia se pensar que, no final do século XIX, estava chegando a hora que poderia abrir o caminho para a superação do 'contraste entre metrópole e colônia'. Contudo, esta luz de esperança não resistiu à síndrome colonizadora." (Mitschein, 2018, p. 23).
O segundo capítulo possui embasamento sobre o destino do proletariado externo do mercado mundial (Darcy Ribeiro). O texto faz uma reflexão acerca do imperialismo inglês e seu domínio na Índia, por exemplo, investindo no progresso socioeconômico interligado com os avanços tecnológicos. Essa situação recorda o prefácio de O Capital: "o país mais desenvolvido não faz mais do que representar a imagem futura do menos desenvolvido." (Marx 1980, p. 5). Afirma-se que as expansões deveriam ter tido o objetivo de criar condições para os nativos também acompanhasse os avanços das metrópoles, o que não aconteceu.
O terceiro capítulo descreve o processo da revolução bolchevique (1917). Apesar do período intenso de luta de classes, onde Lênin e Trotzki foram protagonistas, Antonio Gramsci considera que a Rússia não estava pronta o suficiente para a implementação do sistema socialista, pois os desafios eram enormes. O País não tinha circunstâncias de seguir as formas do Oriente, entretanto, acabou sendo obrigado a se adaptar às pressões militares e econômicas do Ocidente. O absolutismo Czarista surgiu como um sistema político que se apropriou de riquezas nacionais. Com isso, a partir do surgimento do processo de industrialização, a sociedade agrária ficou com diversos entraves. Após o domingo sangrento e a derrota da Rússia na guerra com o Japão (1904), os trabalhadores tiveram o primeiro grande contato com os ideais socialistas, houve uma série de revoltas, surgindo à legitimação das greves. "A solução para o jovem proletariado que, concentrado no setor econômico mais avançado, se mostrava inclinado para seguir 'as ideias mais ousadas do pensamento revolucionário'" (Trotzki, 1960 p. 26, tradução T.M.). A aliança das massas e dos camponeses foi tão marcante que podemos considerá-la como a "primeira revolução anti-imperialista".
O quarto capítulo inicia o debate sobre a colonização da natureza interna da classe operária nos centros do mercado mundial. Mesmos após um período de transformações históricas que mudaram o mundo, um dos fatores do desenvolvimento capitalista, seria o operariado nas metrópoles colaborando na exploração da mão de obra dos países periféricos. "(...) Num momento histórico em que na metrópole, o princípio do 'Time is Money' acabava se tornando o referencial principal da reprodução social, fazendo com que a disponibilidade de indivíduos obedientes em grande escala tenha se tornado um imperativo categórico, a aplicação da racionalidade instrumental e dos seus métodos de controle à natureza interna das classes subalternas ganhava cada vez mais importância." (Mitschein, 2018, p.69).
Portanto, o último capítulo se chama: "O desmoronamento do colonialismo europeu, a maldição do desenvolvimentismo mimético e o legado de Frantz Fanon para o hemisfério Sul". Em síntese, pode-se compreender que mesmo com as grandes elites de impérios terem dissipado, como o desacoplamento da Rússia e da China no mercado mundial, ainda enxergavam a descolonização asiática e africana com muita resistência. O conflito entre Estados Unidos e União Soviética modificou parâmetros por suas disputas de influência. Houve resistência dos líderes de países emergentes para se curvar a um dos blocos em questão, inicialmente, tentando fugir dos resquícios da Guerra Fria. "Contudo, a escolha entre estas duas opções passava longe dos campos técnico ou acadêmico. Dependia das relações de poder no interior das próprias sociedades pós-coloniais." (Mitschein, 2018, p.74) O autor explica como o mercado instruiu a história mundial e como Frantz Fanon foi uma influência nos movimentos sociais e políticos. Sua importância leva a discussão sobre suas reflexões pós-coloniais e formação de identidade negra.
Texto: Beatriz Ferreira
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