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Duas Revoluções: Rússia e China


Em Duas revoluções, Perry Anderson examina a gênese e os desdobramentos das duas principais experiências revolucionárias que tentaram constituir sociedades alternativas ao capitalismo no século XX: as da Rússia e da China. Em chave histórico-comparativa, o autor coteja as vias por elas trilhadas desde seus triunfos originais, destrinchando as orientações estratégicas distintas que presidiram seus processos de reforma sistêmica, culminando em desfechos opostos e contrastantes.


Como a Revolução Chinesa, partindo de e operando em condições bem mais desfavoráveis e precárias, conseguiu alcançar, no século XXI, impacto muito mais amplo e duradouro que o de sua precursora russa? O historiador britânico explora e articula algumas chaves para responder a essa indagação, entre as quais: as bases sociais distintas preservadas pelos respectivos regimes revolucionários em função das características das suas vias de acesso ao poder; o progresso diferenciado na consolidação de um estrato burocrático-conservador dominante; e a disparidade na abrangência das propostas de reforma sistêmica, à luz da “legitimidade e autoridade revolucionárias” de seus dirigentes-proponentes.

Nesta edição da Boitempo, o texto de Anderson é acompanhado por uma crítica inteligente e minuciosa da pesquisadora Wang Chaohua, que discorda de sua proposição de que os processos de reforma na Rússia e na China tenham trilhado caminhos tão diferentes. Na visão de Wang, as transformações vividas pela China na década de 1980 teriam, na realidade, antecipado – sob direção estatal – o traumático processo de restauração capitalista vivido pela Rússia uma década depois. Duas revoluções oferece ferramentas para decifrar o novo tipo de formação híbrida que emerge da transformação colossal e contraditória ocorrida na China.                            

[Trecho de texto de orelha assinada por Luis Fernandes]

“Ao entrar na sua sétima década, a República Popular é uma força motriz da economia mundial; o líder em exportações seja para a União Europeia, seja para o Japão ou para os Estados Unidos; o maior detentor de reservas cambiais do mundo; o país que durante um quarto de século apresentou o maior e mais rápido aumento da renda per capita jamais registrado, e para a maior população do mundo. As grandes cidades chinesas não têm rivais em matéria de ambição comercial e arquitetônica, os produtos da indústria chinesa são vendidos em toda parte. Empreiteiros, representantes comerciais e diplomatas chineses estão em todos os quadrantes do mundo atrás de oportunidades de mais negócios e maior influência. Cortejado tanto por amigos quanto por antigos inimigos, pela primeira vez na sua história o Reino do Meio se tornou uma verdadeira potência mundial, estendendo sua presença a todos os continentes. Com a derrocada da União Soviética, nenhuma outra fórmula para caracterizar a guinada histórica que ela significou se tornou tão sacramentada quanto o “colapso do comunismo”. Passados vinte anos, ela se nos afigura algo eurocêntrica. Em certo sentido, o comunismo não apenas sobreviveu como se tornou a narrativa de sucesso dos tempos atuais. Evidentemente, o caráter e a escala desse feito encerram mais de uma (amarga) ironia. Quanto à sorte diversa das revoluções na China e na Rússia, resta pouca dúvida. Onde estaria a explicação desse contraste?”


Fonte: Blog do Boitempo

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