A Coordenadora de Educação Ambiental, Hyngra Nunes, conversou com a equipe do Trópico em Movimento (CataAmazon) sobre suas experiências e as ações desenvolvidas na Secretaria Municipal de Meio Ambiente no município de Marituba.
A Educação Ambiental tem sido amplamente discutida nas mais diferentes áreas científicas e segmentos sociais que atuam em projetos e organizações governamentais e não governamentais, além de ser uma temática que interfere diretamente no nosso dia a dia, pois o planeta tem sofrido bastante com as ações humanas e as consequências disso, tem sido as constantes catástrofes ambientais ocorridas nos últimos anos, com isso, a educação ambiental se faz necessária no objetivo de incorporar novos comportamentos de consumo, com alternativas mais sustentáveis e de cuidados com o meio ambiente.
No Brasil, a Educação Ambiental surge no início dos anos 70, por meio de pequenas ações de organizações da sociedade civil, de prefeituras municipais e governos estaduais, que promoviam atividades educacionais voltadas para a recuperação, conservação e melhorias do meio ambiente.
Hoje, a Educação Ambiental está mais difundida na nossa sociedade, seja por meio de instituições governamentais, como o Ministério da Educação e as Secretarias de Educação Municipais e Estaduais, como também pelas entidades não governamentais e ações interdisciplinares que envolvem diversas áreas: social, cultural e de meio ambiente.
A interdisciplinaridade nas atividades de Educação Ambiental, conforme destaca a Coordenadora de Educação Ambiental da SEMMA do município de Marituba, Hyngra Nunes, 33 anos, desperta novos olhares para as discussões ambientais, seja no ambiente formal, como as escolas, ou informal, em ações para as comunidades em geral.
Em entrevista para o Programa Trópico em Movimento (CataAmazon), a bacharel em Turismo e Mestranda no Curso de Gestão de Recursos naturais e Desenvolvimento Local pela Universidade Federal do Pará (UFPA), Hyngra Nunes, atua há sete anos na área ambiental e no desenvolvimento de ações de Educação Ambiental, relata a sua experiência e a importância dessas atividades no município de Marituba, região metropolitana de Belém.
CataAmazon: Quais motivações a levaram para a área de educação ambiental?
Hyngra Nunes: Desde a minha graduação tenho afinidade com temas relacionados à questão ambiental. Em 2012, após a minha aprovação no concurso para a Secretaria de Meio Ambiente de Belém, decidi retornar a academia e cursei especialização em Gestão Ambiental. Assumi o cargo em 2017 como bacharel em turismo e passei a atuar na Coordenadoria de Educação Ambiental e Desenvolvimento Comunitário – CEADC. Lá tive contato com pedagogos e profissionais que já desenvolviam atividades relacionadas a EA. A partir deste convívio mais próximo com a temática desenvolvendo projetos, participando de palestras e eventos científicos, absorvendo tantos conhecimentos que permeiam esta área, me situou diante de uma grande temática e me despertou um novo olhar para a interdisciplinaridade das discussões ambientais, tanto no ambiente formal (escolas) quanto informal (sociedade em geral). Foi quando então recebi o convite, em 2017, para trabalhar a frente da coordenação de EA no município de Marituba e desde então tenho atuado e me dedicado aos desafios da temática no nosso Estado e em Marituba.
CataAmazon: Que tipo de atividades de Educação Ambiental são desenvolvidas pela SEMMA de Marituba?
Hyngra Nunes: A atividade de EA (Educação Ambiental) tem sido desenvolvida em 3 esferas: o ambiente institucional (por meio da implementação da Agenda ambiental na Administração Pública – A3P), no ambiente formal (nas escolas municipais em parceria com a Secretaria de Educação – Projeto Sustentabilidade com horta nas escolas e implementação da Coleta Seletiva) e no âmbito informal (atendendo a comunidade em geral, as necessidades cotidianas, formação de multiplicadores e práticas de educação ambiental para melhoria da relação da comunidade com o espaço urbano, por meio do projetos SEMMA vai aos Bairros e Parceiros da Educação Ambiental). Está em curso a implementação do programa de Coleta seletiva desde 2017.
CataAmazon: Quais os objetivos da Agenda Ambiental na Administração Pública e como ela pode ser realizada dentro das instituições?
Hyngra Nunes: A A3P é a proposta de um projeto iniciado na SEMMA aos seus servidores e, conforme recomendação do MP de Marituba, deverá ser estendido as demais secretarias do município. O projeto tem como referência as diretrizes do programa A3P do Ministério do Meio Ambiente e tem como objetivo contribuir com o processo de conscientização dos servidores quanto as questões socioambientais. A ideia é que a secretaria adote novas práticas para redução de consumo, realize a coleta seletiva e sirva de exemplo para a comunidade no que diz respeito ao uso correto dos recursos naturais, destinação adequada dos resíduos e combate ao desperdício.
CataAmazon: Como as comunidades do município de Marituba tem recebido essas ações de Educação Ambiental?
Hyngra Nunes: Por onde as propostas de projetos, palestras e oficinas tem sido executadas, nos diferentes bairros do município, a comunidade tem se mostrado preocupada e interessada nos temas sobre as questões ambientais. Principalmente nos últimos anos, devido aos problemas que envolvem o aterro sanitário e a coleta de resíduos e os impactos que isso gerou ao município. Pudemos observar que a medida que as informações são disseminadas quanto aos direitos e deveres em relação à preservação ambiental e as causas irregulares que prejudicam o meio ambiente são esclarecidas, as comunidades demonstram interesse e em alguns casos se engajam com iniciativas que auxiliam na mitigação dos problemas. Muitos já procuram a SEMMA para solicitar atividades de EA nos bairros e realizam denúncias quanto a irregularidades que causam danos ao meio ambiente.
CataAmazon: Como a sociedade pode contribuir para com essas ações?
Hyngra Nunes: A sociedade a partir do momento que entende que assim como direitos temos deveres, principalmente na defesa do meio ambiente pode contribuir como multiplicadora da Educação Ambiental. Muito importante é a contribuição em aderir a novas práticas cotidianas, principalmente quanto a questão dos resíduos e o desperdício dos recursos naturais. O primeiro passo é a sociedade passar a valorizar o seu espaço, ou seja, entender que a qualidade, do ar, do verde, dos rios também depende de como ela cuida, valoriza e preserva. A ação de preservar e promover um espaço urbano de qualidade não é somente de empresas e gestores públicos, mas também da sociedade como um todo. É imprescindível uma mudança de atitude da sociedade no que diz respeito às questões ambientais e sustentabilidade.
CataAmazon: Quais as ações da SEMMA dentro das escolas em relação a Educação Ambiental?
Hyngra Nunes: A EA é muito importante para o ambiente escolar. Os professores têm o importante papel de disseminar essa informação e atuarem como multiplicadores, bem como desenvolver esse pensamento crítico aos alunos de forma constante e responsável. Para tanto a Secretaria de Educação de Marituba tem em seu quadro funcional uma equipe de Educação Ambiental que atua em parceria com a coordenação de EA nos projetos dentro do ambiente escolar e que se estende aos familiares, a exemplo do projeto de Quintais Sustentáveis que incentiva a criação de hortas no ambiente escolar, plantio de mudas e reaproveitamento dos resíduos orgânicos. A Coordenação de EA também realiza diferentes palestras e oficinas relacionadas à implementação da coleta seletiva, e temas relacionados à saúde e meio ambiente, comportamento e conscientização ambiental por meio do projeto Jovens Protagonistas Urbanos em parceria com a Universidade da Amazônia. O projeto visa a capacitação dos adolescentes e jovens das escolas municipais com o intuito de fomentar a discussão e dar ampla divulgação as ações de engajamento de toda a sociedade na coleta seletiva municipal. Além de identificar e incentivar novas lideranças nas áreas de vulnerabilidade social.
CataAmazon: Quais os desafios ao desenvolver ações de Educação Ambiental em um município que nos últimos anos, obteve um crescimento populacional expressivo com o surgimento de conjuntos e condomínios residências, como é o caso de Marituba?
Hyngra Nunes: Marituba, hoje, possui uma população estimada em 130 mil habitantes. Parte do seu expressivo crescimento populacional deve-se ao fato de ocupações desordenadas e mais recentemente da ocupação induzida através dos diversos conjuntos habitacionais que foram construídos no município. É preciso garantir a todos um ambiente de qualidade ambiental. Para tanto sabemos que é essencial o investimento em EA. O desafio maior é a adoção de uma mudança de postura, tanto da sociedade, quanto das empresas e do governo. Pois em todos os setores da sociedade é preciso formarmos multiplicadores para a disseminação de práticas corretas quanto as questões ambientais. Para tanto é preciso o estabelecimento de um programa de educação ambiental por meio da instituição da política de EA municipal que permita criar mecanismos de cooperação interinstitucional e interdisciplinar para o desenvolvimento da prática de educação ambiental. Ou seja, colocar a sociedade nesta pauta de discussão e instituir projetos macros, em especial, no ambiente escolar que vão desde a qualificação dos professores à inclusão destes temas nos programas político pedagógicos para além de ações pontuais.
CataAmazon: Que mudanças positivas as ações de Educação Ambiental da SEMMA já obtiveram em Marituba?
Hyngra Nunes: A partir da implantação do programa de coleta seletiva, projeto piloto Bairro Limpo nos bairros Nova Marituba, Beija-flor, Jardim dos Pardais, Parque das Palmeiras, Agrovila São Pedro, Jardim Imperial, a população desses bairros passou a ser atendida com a coleta porta-a-porta e a instalação de dois pontos de entrega voluntária (PEV). Observamos que nos primeiros meses de implantação do projeto muitos moradores aderiram à separação e coleta seletiva, auxiliando o trabalho da cooperativa de catadores. Outra mudança positiva diz respeito ao acesso a informação sobre as ações executadas pela SEMMA. Diante de situações que prejudiquem o meio ambiente, como poluição urbana, descarte irregular de lixo ou dejetos de animais, a população informada realiza denúncia na secretaria o que auxilia no trabalho de fiscalização, possibilitando atuação diligente na mitigação destas ações irregulares.
CataAmazon: Sobre a coleta seletiva do município, há algum projeto ou ações sendo implementadas em parceria com as cooperativas de catadores do município?
Hyngra Nunes:Sim, em 2017 o município lançou o projeto Bairro Limpo, programa de coleta seletiva do município de Marituba, atendendo as diretrizes da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Lei nº 12.305/2010.
Desde então, a prefeitura de Marituba, por meio da SEMMA, apoiou a organização das duas cooperativas do município (ACAREMA e ACAMARI) e prosseguiu com ações de educação ambiental nas escola e bairros. Para este ano a prefeitura irá realizar uma nova etapa do programa de coleta seletiva nos condomínios e bairros Centro e os de crescimento induzido devido à sua consolidação urbanística. Serão instalados mais oito PEV´s que serão acompanhados de campanha de EA e coleta porta-a-porta. As cooperativas são inseridas no coleta porta-a-porta, na coleta nos PEV´s além de um galpão e um centro de triagem disponibilizados em parceria com a prefeitura.
CataAmazon: Quais os projetos e ações de Educação Ambiental para 2019?
Hyngra Nunes: A CEA tem na agenda anual a Semana do Meio Ambiente e o Fórum Municipal de Meio Ambiente, além de uma agenda de Ações Ambientais. Destacamos o Projeto SEMMA vai aos Bairros, que atende demandas nos bairros e o projeto Parceiros da Educação Ambiental que atende as demandas das escolas municipais e empresas parceiras. Está em curso a proposta do programa de Coleta Seletiva que atenderá os bairros do município com doze pontos de entrega voluntária, coleta porta-a-porta e campanhas de educação ambiental. Além do planejamento para a criação da Política municipal de Educação Ambiental e o projeto de compostagem nas feiras e mercados municipais, que serão acompanhados de ações de educação ambiental e auxilio na destinação adequada dos resíduos orgânicos.
Por Karina Samille Costa
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