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Especialistas preveem catástrofe se óleo atingir Arquipélago de Abrolhos

Enquanto Marinha reforça prevenção, ambientalistas apontam presença de óleo em locais próximos a Parque Nacional que abriga a maior biodiversidade do Atlântico Sul. Ecossistemas poderiam levar décadas para se recuperar.

Abrolhos: óleo cru pode causar até a criação de zonas mortas, que nunca mais se recuperariam.

As manchas de óleo de origem desconhecida que atingem o litoral do Nordeste desde o fim de agosto começaram a aparecer na região de Abrolhos, que abriga o arquipélago homônimo, no sul da Bahia, e a maior biodiversidade marinha de todo o Atlântico Sul. 


A ONG Conservação Internacional relata ter encontrado óleo, nesta semana, em Canavieiras, Belmonte e Santa Cruz de Cabrália, na região de Abrolhos, que engloba o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos e compreende os ecossistemas marinhos e costeiros entre a foz do Rio Jequitinhonha, em Canavieiras (BA), e do Rio Doce, em Linhares (ES), além dos bancos marinhos de Abrolhos e de Royal Charlotte.


Criado em 1983, o Parque Nacional Marinho dos Abrolhos abriga as cinco ilhas do arquipélago e ainda não foi atingido pelas manchas de óleo. A área é rica em corais e o principal berçário de baleias jubarte da costa brasileira. O turismo e a pesca na região são fonte de renda para cerca de 100 mil pessoas.


Guilherme Dutra, diretor de Estratégia Costeira e Marinha da ONG Conservação Internacional, afirmou à DW Brasil que em torno de 80 quilos de resíduos de óleo foram coletados do mar por embarcações pesqueiras mobilizadas na Reserva Extrativista de Canavieiras, a cerca de 200 quilômetros ao norte de Caravelas, cidade litorânea mais próxima do Arquipélago de Abrolhos.


"Considerando que o óleo retirado não podia ser visto da superfície e que sua coleta ocorreu com um esforço relativamente pequeno de pesca, acreditamos haver muito mais deslocando-se no mar da região, na direção dos recifes e da costa", diz.


Anna Carolina Lobo, gerente dos programas Marinho e Mata Atlântica do WWF-Brasil, diz que no momento não é possível projetar a quantidade de óleo se dirigindo ao sul e considera que, caso o óleo chegue ao Arquipélago de Abrolhos, "será uma catástrofe".

O risco concentra-se principalmente na biodiversidade da região. "O arquipélago está conectado com o ecossistema de manguezais, na região de Caravelas, um dos mais importantes e produtivos do mundo, o que contribui para a economia da região", afirma.


"O óleo cru em ambientes sensíveis, como corais e manguezais, pode causar até a criação de zonas mortas, o que significa que essas áreas nunca mais vão se recuperar", diz Lobo.


Dutra, da Conservação Internacional, salienta o risco imediato para os recifes de coral: "A chegada de óleo nesses ecossistemas causa impactos severos, e sua recuperação pode levar décadas."


Ele pondera ser difícil prever o real impacto nos ecossistemas marinhos. "Além da enorme área atingida pelo óleo, há ainda o efeito da contaminação química na cadeia alimentar. Vários estudos começaram a ser feitos, mas ainda não temos muitos resultados", afirma.

Mancha no sul da Bahia


Ambos os especialistas afirmam que, devido à falta de informações relacionadas à origem do óleo, não é possível estimar se e em que medida as manchas seguirão avançando em direção ao sul. Segundo Lobo, isso pode ocorrer caso a fonte ainda esteja soltando óleo no litoral brasileiro.


Uma das hipóteses por trás do problema, levantada por cientistas das universidades federais de Alagoas (Ufal) e do Rio (UFRJ), é de que o óleo possa estar vazando de um poço marítimo de petróleo.


Pesquisadores de ambas as universidades anunciaram ter encontrado no litoral sul da Bahia uma grande mancha que seria de óleo. Feita a partir de imagens captadas na segunda-feira por um satélite da Agência Espacial Europeia (ESA), a mancha tem 55 quilômetros de extensão e 6 quilômetros de largura.


Em nota, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) afirmou que fez uma análise técnica das imagens e concluiu que a mancha não é de óleo.

Monitoramento pela Marinha


A Marinha informou nesta quarta-feira que tem cinco navios atuando preventivamente na região do Arquipélago de Abrolhos, e que mais quatro navios serão incorporados à operação a partir desta sexta-feira.


Segundo a Marinha, os estados de Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Paraíba estão com todas as suas praias limpas, e os esforços estão agora concentrados na limpeza de cinco praias de Alagoas (Maragogi, Japaratinga, Barra de São Miguel, Feliz Deserto e Coruripe) e de uma na Bahia (Moreré).


Até esta quarta-feira, haviam sido retiradas mais de 2 mil toneladas de resíduos de óleo das praias no Nordeste. No total, foram empregados mais de 3.100 militares, 19 navios e três helicópteros da Marinha, além de 5 mil militares do Exército e seis aeronaves da Força Aérea Brasileira.


Eles se somam a 140 servidores do Ibama, 40 do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e 440 funcionários da Petrobras, além de funcionários de órgãos estaduais e municipais.


"O desastre já é muito grande. Foram contabilizados 250 pontos ao longo de nove estados, e 40% dos locais afetados são unidades de conservação. O óleo já se estendeu por 2,5 mil quilômetros, e as praias vão demorar pelo menos 20 anos para serem recuperadas", afirma Lobo.


Fonte: DW Notícias

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