O ano teve desastres em Brumadinho, na Amazônia e no Nordeste. Viu o descaso de Bolsonaro e Salles. Mas o mundo reagiu com Greta Thunberg.
2019 não foi um ano fácil para o meio ambiente. Logo no primeiro mês do ano, em 25 de janeiro, houve o desastre socioambiental em Brumadinho (MG), além das consequências para o meio ambiente fez centenas de vítimas fatais. Já no segundo semestre, passaram a ser relatados casos de grandes incêndios na Amazônia e no Pantanal. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), apenas em agosto foram mais de 30 mil focos de incêndio no maior bioma mundial.
Também não houve trégua para o litoral brasileiro. No final de setembro foi encontrado petróleo cru nas praias nordestinas. Até o fechamento desta retrospectiva, não havia sido identificada a origem do vazamento. O óleo, que surgiu no litoral paraibano, percorreu a costa brasileira e chegou ao mar fluminense.
O meio ambiente foi pauta global em 2019. Cresceu o movimento Fridays for Future (Sextas Pelo Futuro), liderado pela ativista sueca de 16 anos Greta Thunberg. Toda sexta-feira, estudantes de todo o globo realizaram greves em defesa do meio-ambiente. A ação ganhou repercussão e no dia 20 de setembro mais de 180 países realizaram a Greve Global Pelo Clima.
Em 2015, o Brasil já havia passado pela experiência do rompimento de uma barragem da mineradora Vale. Em Mariana (MG), foram 18 mortos e 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos espalhados. O desastre em Brumadinho, no entanto, superou a tragédia anterior. Até o fechamento desta retrospectiva, 253 pessoas foram encontradas mortas. 17 ainda estão desaparecidas. Isso tornou a tragédia a 2ª maior do mundo por desastre do gênero.
O rompimento da barragem liberou 12 milhões de metros cúbicos de rejeitos, tendo atingido o ecossistema da região. Mais de 130 quilômetros da Mata Atlântica foram devastados. A água do Rio Paraopeba, na região mineira, foi contaminada com ocorrência de metais pesados como chumbo e mercúrio e atingiu locais até 300 quilômetros de distância de Brumadinho. Por conta da avalanche de lama que o atingiu, ele se tornou um risco às comunidades ribeirinhas e aos animais que se utilizavam do rio. Com a morte de predadores naturais, a região se tornou endêmica para febre amarela e esquistossomose.
Segundo o Inpe, até o mês de julho o desmatamento na Amazônia brasileira havia sido 278% maior do que o registrado no mesmo período em 2018. No entanto, o mês de agosto marcou a maior média de focos de incêndio nos últimos 21 anos. Produtores do agronegócio convocaram o “Dia do Fogo”, a ser realizado em 10 de agosto, com o objetivo de fazer derrubadas em massa que chamassem a atenção das autoridades.
Em um jornal de Novo Progresso (PA), que divulgou a ação antes de ocorrer, os produtores argumentaram que o avanço da produção ocorre sem o apoio do governo. “Precisamos mostrar para o presidente (Jair Bolsonaro) que queremos trabalhar e o único jeito é derrubando. Para formar e limpar nossas pastagens é com fogo”, defenderam. Alertas de urgência foram enviados ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) pedindo reforço na fiscalização da região, mas o órgão só respondeu aos pedidos dois dias depois da data.
No dia 10, a cidade de Novo Progresso teve 124 registros de focos de incêndio ativos, 300% a mais que no dia anterior. Durante os dias 6 e 8 de agosto, foram 154 incêndios em Altamira (PA). Três dias depois, foram 431 incêndios. O chamado dos produtores resultou em uma alta de 179%. No entanto, a cidade mais devastada foi São Félix do Xingu (PA), que registrou entre os dias 9 e 11, 329% de incêndios a mais do que nos três dias anteriores. No final daquele mês, o presidente Jair Bolsonaro defendeu que as queimadas na Amazônia são uma tradição da região.
Entre setembro e outubro, também foram registrados incêndios na Chapada dos Veadeiros, em Goiás. Em setembro, o fogo consumiu cerca de seis mil hectares. Em outubro, a região do Pantanal também sofreu. Os incêndios devastaram mais de 50 mil hectares. Foi o pior registro da região desde 2002. Em outubro de 2018, foram 120 incêndios na região, enquanto em outubro de 2019, foram 2427.
Foram nas praias de Jacumã e Tambaba, em Conde (PB), que foram registradas em 30 de agosto as primeiras manchas do óleo que percorreram a costa brasileira nos últimos meses. Pescadores, surfistas e moradores das regiões atingidas se voluntariaram para retirar o petróleo que chegou às praias, muitas vezes sem a segurança devida. Após participarem dos mutirões de limpeza, eles relataram sentir náusea, dor de cabeça, falta de ar e ardência nos olhos. Isto porque há cuidados que devem ser tomados nesse trabalho, como a utilização de uniformes que protejam a pele e o armazenamento devido do óleo encontrado.
A limpeza das praias se iniciou a partir das equipes municipais, estaduais, do Ibama e da Marinha Brasileira. No entanto, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles só aplicou o plano previsto para situações como essa 43 dias após a chegada do óleo nas praias. O ministro também só visitou os locais atingidos 38 dias após a primeira ocorrência.
Até o fechamento desta retrospectiva, ainda não havia sido encontrada a origem do óleo. A priori, a Petrobras defendeu que o óleo tinha assinatura venezuelana, ou seja, que haviam traços do óleo que indicavam que ele só poderia ter sido produzido no país. Há a suspeita que o óleo tenha sido derramado por um “navio fantasma”, prática comum na Venezuela devido ao embargo estadunidense ao petróleo do país. Em novembro, a Polícia Federal passou a investigar cinco empresas gregas que controlam navios-petroleiros. Já em dezembro, surgiu a hipótese do Inpe de que o óleo teria vindo do mar africano. A incerteza para cravar um responsável ocorre porque o óleo se desloca abaixo da superfície marítima, tornando mais difícil a localização por satélite.
O mundo nunca falou tanto sobre o meio ambiente. Isto porque, neste ano, os protestos convocados pela ativista ambiental Greta Thunberg ganharam o mundo. A sueca de 16 anos, que iniciou sua militância realizando greves todas as sextas-feiras em frente ao Parlamento de seu país, inspirou jovens de todo o mundo a fazer o mesmo. O movimento ganhou o nome de Fridays for Future (Sextas Pelo Futuro). Em setembro, foi convocada uma semana de greve global em defesa do clima, iniciada em dois grandes dias de protesto: as sextas-feiras dos dias 20 e 27. A estimativa é de que os protestos tenham ocorrido em 4500 cidades espalhadas por 180 países. No Brasil, mais de 50 cidades aderiram à greve.
O vínculo do governo com a mensagem espalhada pelos defensores da mudança climática é nula. Mais de uma vez neste ano o ministro Ricardo Salles e o presidente Jair Bolsonaro disseram ou escreveram deboches e ofensas a Greta e à luta climática.
Dois eventos de grande impacto para a comunidade ambiental durante o ano foram a Assembleia Geral da ONU, no final de setembro, e a COP25 (Conferência do Clima da ONU), no início de dezembro. Em ambas as ocasiões, foram realizadas amplas mobilizações de ruas e a ativista Greta Thunberg discursou em ambos os eventos.
Fonte: Carta Capital
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