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México aumenta ofensiva sobre imigrantes para conter ameaça tarifária de Trump

Governo de López Obrador envia 6.000 agentes à fronteira da Guatemala

Policiais mexicanos detém migrantes latinos na fronteira entre a Guatemala e o México, em Metapa (Estado de Chiapas), nesta quinta-feira. MARCO UGARTE AP

A pressão de Donald Trump contra o México em questões de imigração deu sinais nesta quinta-feira de que está surtindo efeito. O Governo de Andrés Manuel López Obrador prometeu reforçar a fronteira sul do país depois de dois dias de negociações para evitar a entrada em vigor da nova tarifa anunciada por Washington na próxima segunda-feira. Trump exige que seu vizinho do sul aumente ipso facto os controles e assuma mais asilados. As negociações entre os dois países continuarão nesta sexta-feira, informou o ministro mexicano das Relações Exteriores, Marcelo Ebrard.


No início da tarde, depois de toda a manhã de reuniões entre a delegação mexicana e membros da Casa Branca, surgiram informações de que as posições haviam começado a se aproximar. A secretária de Governo [ministra do Interior], Olga Sánchez Cordero, anunciou que o México reforçará a fronteira com a Guatemala enviando até 6.000 soldados da Guarda Nacional. Sánchez Cordero justificou a decisão depois da maciça entrada de migrantes no dia anterior, embora venha sendo a tônica nos últimos meses. Quase ao mesmo tempo, o Governo mexicano anunciou que as contas de 26 pessoas que supostamente traficavam com migrantes foram bloqueadas.


A porta-voz da Casa Branca, Sara Sanders, esfriou as expectativas em um comunicado no final do dia. “A posição não mudou e neste momento continuamos com as tarifas”, disse, ideia que o vice-presidente Mike Pence repetiu em um evento público na Pensilvânia. O ministro das Relações Exteriores do México confirmou que na tarde de quinta-feira nenhum acordo havia sido alcançado, mas que as negociações continuarão. “Uma negociação é assim”, disse Ebrard.


A Administração Trump quer que o México acolha mais asilados e também assuma a condição de terceiro país seguro, extremo ao qual a Administração de López Obrador se nega, pelo menos explicitamente, embora admita que deve tomar medidas drásticas se quiser reduzir a imposição de tarifas sobre produtos mexicanos a partir da próxima segunda-feira. Em troca, o México quer obter um compromisso de Trump de investir em um plano de migração abrangente com a América Central, a única solução que, no médio prazo, considera viável para aliviar a situação.


Com o regime de “terceiro país seguro”, se considera que os refugiados que solicitarem refúgio ou asilo nos Estados Unidos recebam a mesma proteção no México, permitindo que possam ser enviados de volta para lá se este for o país que visitaram por último antes de chegarem à fronteira dos EUA. “Já dissemos há algum tempo que um acordo sobre um terceiro país seguro não seria aceitável, isso não me foi proposto, mas não seria aceitável”, disse Ebrard na segunda-feira, na coletiva de imprensa antes das reuniões com a delegação norte-americana.


Qualquer medida que acorde com os Estados Unidos será insatisfatória para o México, na medida em que implica fazer concessões maiores do que as que a Administração Trump fará. Além disso, no Governo de López Obrador se considera que, mesmo satisfazendo as reivindicações dos Estados Unidos nesta ocasião, dentro de poucas semanas Trump empreenderá uma nova ofensiva contra seu vizinho do sul. Assim vem fazendo desde que chegou à Casa Branca e nada indica que vá parar em plena campanha eleitoral para se reeleger. “O México precisa fazer mais”, foi a conclusão à qual chegou o vice-presidente de Trump, Mike Pence, depois do seu encontro com Ebrard na quarta-feira.


O México reconhece que terá de aumentar os controles migratórios na fronteira sul e em todo o seu território. A aproximação de posições nesse sentido se choca com a maneira pela qual cada país deseja por em prática uma solução. Os Estados Unidos exigem medidas tangíveis de curto prazo, isto é, já. O México, sabendo que precisa satisfazer Trump, está ciente de que o problema continuará por muito tempo e tenta convencer os Estados Unidos da necessidade de implementar um plano que incorpore Guatemala, Honduras e El Salvador, ou o problema se manterá. De fato, esse plano já foi elaborado com a ajuda da Cepal, a agência das Nações Unidas que promove o desenvolvimento econômico e social na América Latina. Para materializá-lo, no entanto, requer dinheiro dos EUA.


O ministro das Relações Exteriores mexicano admitiu, depois da primeira reunião com a delegação de Trump, que o fluxo de imigrantes sem documentos não é normal. De certa forma, Ebrard assumiu que as intenções de facilitar a entrada de migrantes da América Central com as quais começou o Governo de López Obrador não eram viáveis. Não ao menos com Trump como vizinho. O México triplicou as deportações nos primeiros meses da Administração de Andrés Manuel López Obrador, passando de 5.717 expulsões em dezembro de 2018 para 15.654 em maio. Um ano antes, o número foi de 10.350. Em 2018 houve 26.566 pedidos de refúgio, o maior número de que se tem registro.


A enxurrada de pessoas sem documentos na fronteira é real. De acordo com os dados disponíveis na quarta-feira, somente em maio os agentes norte-americanos prenderam mais de 144.000 imigrantes, o maior número em 13 anos e um aumento de 32% em relação ao mês anterior. A isso se deve acrescentar as mais de 20.000 prisões ocorridas no México e os milhares de pessoas que, admite o Governo de López Obrador, transitam ilegalmente pelo país latino-americano, um número que incomoda Trump enormemente. O grande número de famílias que fogem da violência e da miséria da América Central explica boa parte desse aumento de pessoas sem documentos e coloca à prova um sistema que não está preparado para cuidar –e reter– tantas crianças e pais. Um relatório oficial da inspeção do DHS (siga em inglês do Departamento de Segurança Interna) ressaltou que a chegada de “unidades familiares”, compostas ao menos por um adulto com um ou mais menores, disparou 1.816%.


Trump pressiona não só no México, mas também os democratas, aos quais aponta o dedo por não apoiarem a construção de novos trechos do muro na fronteira sul —projeto que tampouco goza da simpatia de muitos republicanos— nem o fortalecimento do controle migratório. Este será, novamente, um dos assuntos mais quentes da campanha eleitoral presidencial que está começando nos Estados Unidos. Para o presidente, a mão dura significa vantagem eleitoral. Para os democratas, é mais complicado. A posição favorável não implica punição nas urnas, mas, ao contrário do que acontece entre os conservadores, muitos cientistas políticos duvidam que seja um incentivo.


Fonte: El País Global

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