Grandes grupos alemães já operam no Brasil e os governadores do NE deram prioridade para buscar parcerias com o poderoso segmento de médias empresas.
Depois de passar pela França e pela Itália, a comitiva de governadores e representantes do Consórcio Interestadual de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste chegou nesta quinta-feira (21) a Berlim, onde se reuniu com mais de vinte empresários na sede da Federação das Indústrias da Alemanha.
O país é o parceiro mais importante do Brasil na Europa, ao mesmo tempo em que o Brasil é o parceiro mais importante da Alemanha na América do Sul.
O objetivo do Consórcio do Nordeste é buscar investimentos e parceiros estrangeiros para o desenvolvimento da região brasileira, e o foco dessa primeira agenda na Alemanha foi apresentar oportunidades de negócios a médias empresas do país, considerando que boa parte dos grandes grupos alemães já opera no Brasil.
O governador da Bahia e presidente do Consórcio, Rui Costa, destacou as oportunidades de investimentos, por exemplo, na área do petróleo. Enquanto o litoral do Rio possui o maior volume de reservas em águas profundas, Costa lembrou que o Nordeste tem poços maduros em terra e em águas rasas.
“Nosso interesse é atrair empresas com perfil diferente daquelas que estão disputando o pré-sal, cuja característica é de mega investimentos, por mega companhias internacionais. Buscamos o médio investidor, que pode se beneficiar da modelagem inteligente feita pela ANP [Agência Nacional de Petróleo], de oferta permanente, que facilita a entrada de novas empresas”, explicou.
“Queremos ser a porta de entrada da Europa em nosso país, pelas relações culturais, pelo esporte, pelo potencial turístico e também pelas oportunidades de desenvolvimento de infraestrutura que apresentamos. Somos a região mais próxima geograficamente de vocês”, acrescentou o governador de Pernambuco, Paulo Câmara.
Também foi foco do diálogo a capacidade do Nordeste em gerar energia limpa e renovável. De acordo com os dados apresentados na reunião, o Nordeste é a região com maior taxa de conversão de energia solar e eólica em energia elétrica. E, como o vento é mais forte e mais constante no período da noite neste parte do Brasil, o sistema de geração pode ser integrado com a energia solar, gerando uma vantagem competitiva para quem investir no setor. Atualmente, os espanhóis lideram nos investimentos na indústria eólica, seguidos pelo italianos e, mais recentemente, pelos chineses, que compraram plantas já instaladas por outras empresas.
📷(Foto: Bia Barbosa)
Uma das preocupações trazidas ao encontro pela Associação das Câmaras de Indústria e Comércio Alemãs (Deutscher industrie- und handelskammertag/ DIHK) foi a questão da distribuição dessa 📷energia, em função da infraestrutura da rede elétrica no país. Os governadores explicaram que o sistema brasileiro é totalmente interligado e que as linhas já existentes tem espaço para ampliar sua capacidade de transmissão. Mas lembraram que o Brasil também tem feito leilões para a construção de linhas de alta tensão. “O país lançou um programa para substituir sua matriz energética, em respeito ao Acordo de Paris e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. Até 2030, precisamos gerar mais de 50 Gigas. Cerca de 40 serão na região Nordeste”, explicou Wellington Dias, governador do Piauí.
Saneamento e transporte terão rodadas de negociações bilaterais no Brasil em 2020
Outro foco da apresentação girou em torno da infraestrutura de saneamento básico – água e esgoto. Apenas 25% do esgoto das cidades do Nordeste é tratada de maneira adequada e, por isso, as nove empresas públicas responsáveis pelo serviço na região vão abrir seu capital a partir de 2020, projetando um investimento de 27 bilhões de reais via parcerias público-privadas (PPPs) e subconcessões. Os termos e formato dos leilões serão apresentados num evento no Brasil, no primeiro trimestre do ano que vem, para o qual os alemães foram convidados. Além do saneamento, o Consórcio também apresentará, no início do ano que vem, as licitações que acontecerão em torno da agenda de smart cities (cidades inteligentes), que envolve sobretudo o setor de transportes.
Oliver Pietz, diretor para as Américas da Deutsche Bahn (DB), a maior empresa alemã na área de transporte sobre trilhos, afirmou que o Consórcio, ao reunir o conjunto dos estados da região, cria uma posição muito mais forte e apresenta algo muito importante e interessante para parcerias. Ele questionou os governadores do Nordeste sobre a interligação entre os diferentes estados brasileiros e a relação dos projetos que estão desenvolvendo com os demais, sob responsabilidade do governo federal.
Segundo o governador Rui Costa, são projetos complementares, tanto para transporte de mercadorias quanto para de passageiros. “Esse é o estímulo que queremos dar às empresas alemãs. Haverá leilões já no início do ano que vem. A Bahia fez uma licitação agora de uma ponte de 13 km, num investimento de 1 bilhão de euros. Uma empresa chinesa vai executar 22 km de monotrilhos também, e concluímos 38 km de metrô com maquinário de um grupo coreano. Também há vários consórcios sendo formados para disputar a Ferrovia Leste-Oeste, que vai ligar o litoral da BA ao centro do país. Mas não sei de nenhuma empresa alemã participando. Então queremos estimular e fomentar esse envolvimento”, declarou. “Não temos medo da concorrência asiática, não temos motivo para temê-la”, respondeu brincando Mark Heinzel, da DIHK.
O Congresso Nacional está em vias de aprovar o novo marco regulatório da infraestrutura ferroviária no Brasil e há uma expectativa de que isso, além de ajudar na modernização do setor, leve mais investimentos estrangeiros para o Brasil.
Tecnologia e desenvolvimento sustentável
Além da infraestrutura de portos, rodovias e ferrovias, o Nordeste quer ampliar também sua infraestrutura tecnológica. “É prioridade dotarmos nossos estados de infovias, garantindo a conexão à Internet de boa qualidade. Não podemos perder de vista que um país com soberania e autonomia se faz pela via dos investimentos na área da educação, ciência e tecnologia”, disse Fátima Bezerra, governadora do Rio Grande do Norte. A região também tem se destacado pela criação de empresas encubadoras de TI (tecnologia de informação) e de startups. “A economia criativa é uma das que mais cresce na região”, acrescentou Renan Filho, governador de Alagoas.
Fortaleza, por exemplo, abriga o ponto de conexão de Internet via cabos submarinos que ligam o Brasil à Europa e aos Estados Unidos. Na Paraíba, a Nokia vai implantar o primeiro laboratório de 5G do Brasil e a Universidade de Campina Grande já opera um centro de pesquisa com 250 pesquisadores de empresas importantes desta área. “O Nordeste tem se destacado por conta dessa conexão”, acredita João Azevedo, governador da Paraíba.
Representantes de empresas de tecnologia demonstraram interesse em parcerias com o Brasil, mas lembraram que os estados precisam se adequar aos padrões europeus de proteção e transferência de dados – algo que será possível quando, em 2020, entrar em vigor no país a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais, boa parte inspirada no regulamento europeu para o setor.
A adequação aos padrões exigidos pela Europa também foi destacada na área ambiental. Um dos diferenciais do Consórcio apresentado no encontro com a indústria alemã foi o compromisso dos estados do Nordeste com o desenvolvimento sustentável.
“Em Fernando de Noronha, temos implementado técnicas de preservação piloto para o restante de Pernambuco. Lá desenvolvemos uma série de iniciativas para, em 10 anos, compensar os níveis de carbono da ilha, para alcançarmos o nível de plástico zero e também avançar na energia solar. Estamos introduzindo o carro elétrico na ilha para que, em 2022, não haja mais poluição fonte deste tipo de combustão”, relatou o governador Paulo Câmara.
Para Câmara, o Consórcio é uma iniciativa inédita, que vai contribuir muito para o desenvolvimento da região e do país. “Há uma clara coesão da região Nordeste em relação a valores muito importantes no século XXI, como o da economia do conhecimento, de um desenvolvimento que tem que olhar também para o social. Brasil é país muito desigual e esse desequilíbrio é um fator restritivo para o Brasil diante de todo o seu potencial. Precisamos alterar este quadro”, disse.
O governador Rui Costa concluiu a reunião com um convite bem-humorado e mais do que atrativo para os empresários, lembrando do centro de treinamento construído pela Alemanha em Santa Cruz Cabrália, na Bahia, durante a Copa do Mundo de 2014: “Da última vez que vocês se instalaram no Nordeste, saíram de lá muito bem sucedidos. Então voltem”.
Nesta sexta-feira (22), a agenda do Consórcio do Nordeste continua em Berlim, onde os governadores se reunirão com representantes do Ministério da Economia, da Cooperação Econômica e Desenvolvimento, da Educação, da Cultura e das Relações Exteriores do governo alemão.
Fonte: Carta Maior
Comments