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O povo ressuscitou, cresceu e ganhou a aldeia global

SEBASTIÃO SALGADO NA AMAZÔNIA

YawanawásUm olho na tradição da floresta, outro conectado ao mundo, a comunidade yawanawá, do Acre, vive seu renascimento cultural e é referência em empreendedorismo –após ter sido dizimada e perseguida nos anos 1970


Leão Serva

TARAUACÁ (AC)Na contramão do que se costuma ouvir sobre índios brasileiros, os yawanawás, habitantes da Terra Indígena Rio Gregório, no Acre, são hoje um exemplo de exuberância cultural e populacional.

Reduzidos a 120 indivíduos no auge da ditadura militar, no início da década de 1970, esquecidos de suas tradições e sofrendo com um altíssimo índice de alcoolismo e uma grave desagregação social, eles estavam virtualmente extintos.

Agora, meio século após a quase extinção, os yawanawás já estão reacostumados aos seus mais antigos rituais, falam a língua ancestral e, além disso, se conectam ao mundo contemporâneo usando smartphones e computadores por meio de uma antena de wi-fi instalada na aldeia.

A população atual, de cerca de 1.200 pessoas, é dez vezes a registrada nos anos 1970.

Um dos maiores sinais de sua degradação cultural era o desaparecimento da língua. Eles eram pressionados a não usá-la diante de não índios, principalmente por dois agentes externos que controlavam de forma férrea a região em que moram. Em primeiro lugar, os donos dos seringais, que dominaram as florestas do Acre desde o final do século 19. Eles empregavam os indígenas em condições de escravidão e não queriam que a língua pudesse revelar a existência de índios capazes de reivindicar a propriedade da terra.

Em segundo lugar, a missão evangélica que havia imposto ali o culto cristão e cujos religiosos atacavam os ritos indígenas tradicionais e os classificavam como demoníacos.

“Nossa língua foi proibida, só os velhos a conheciam, as crianças só aprendiam o português. Nossas crenças e tradições eram consideradas diabólicas pelos missionários, e muitos de nós acreditávamos nisso. Passamos a viver como escravos no trabalho e na cultura”, conta o cacique Biraci Yawanawá, o Bira, de 54 anos.

A guinada começou nos anos 1980.

O cacique explica que no início dos anos 1990, quando vivia em Rio Branco, a capital do estado, foi chamado pelos líderes mais velhos para assumir a liderança do grupo.

Para voltar à aldeia e liderar a comunidade, Bira impôs condições que, aceitas, resultaram numa espécie de revolução cultural.

Ele expulsou a missão religiosa dali, restabeleceu o ensino da língua tradicional e passou a incentivar o estudo dos antigos mitos e histórias pelo grupo, como forma de religar as novas gerações aos conhecimentos e memórias dos ancestrais.

As mudanças incluíram o local da aldeia: para melhor controlar o acesso à reserva, demarcada em 1987, Bira comandou o deslocamento da comunidade principal para uma colina às margens do Gregório, de onde se pode ver quem sobe ou desce o rio. Nascia a Nova Esperança.

Após mais de um quarto de século, os yawanawás são referência da força cultural que índios, quando controlam suas terras, podem conquistar ao combinar cultura tradicional e empreendedorismo.


Confira a reportagem completa no site da Folha de São Paulo no link https://arte.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/sebastiao-salgado/yawanawa/o-povo-ressuscitou-cresceu-e-ganhou-a-aldeia-global/


Confira as fotos abaixo:



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