Enquanto Ocidente mergulha em crise democrática e econômica, China expande-se e desafia. Quais as oportunidades e riscos — em especial para a América Latina?
José Eustáquio Diniz Alves, entrevistado por Patricia Fachin, no IHU | Imagem: Ha Qiogwen, O Imperialismo americano precisa ser batido (1965)
Depois de ter se transformado na “fábrica do mundo” e de seu PIB ter superado o dos EUA, a China também se tornou o “banco do mundo” e “estimula o crescimento de todo o continente asiático” por meio da iniciativa “Um cinturão, uma rota” (One Belt One Road, ou OBOR), resume José Eustáquio Diniz Alves, ao comentar a ascensão econômica e política da China. Essa iniciativa, esclarece, “visa construir redes de comércio e infraestrutura conectando a Ásia com a Europa e a África ao longo dos antigos caminhos comerciais da Rota da Seda, objetivando o compartilhamento do desenvolvimento e da prosperidade”. Um exemplo dessa proposta, diz, é a inauguração da recente linha ferroviária que liga Londres à estação de Yiwi, no sul de Xangai. “Trata-se de uma interligação de Pequim e Xangai com o mundo”, pontua.
Na entrevista a seguir, Alves explica a relação da China com o BRICS, especialmente com a Rússia e a Índia, que formam, juntamente com os chineses, o “triângulo estratégico” que quer dominar a Eurásia. “A Eurásia é a faixa contínua de terra mais extensa do mundo. Ela é berço das mais antigas e importantes civilizações do passado. Sua extensão territorial é de 54,8 milhões de km² (mais de seis vezes o tamanho do Brasil) e possui cerca de dois terços da população e do PIB mundial. Quem controlar a Eurásia, controlará o mundo. Mas as alianças já passaram por muitas reviravoltas”, frisa.
De acordo com José Eustáquio Diniz Alves, “a ascensão da China e dos países aliados do Oriente pode significar o fim do modelo econômico e político do liberalismo democrático burguês e o fim da ordem internacional fundada a partir da reunião de Bretton Woods, em 1944”. Em seu lugar, passará a vigorar o “Consenso de Beijing”, que aposta na “promoção das economias em que a propriedade estatal continua tendo um peso dominante, na promoção de câmbio competitivo, com mudanças graduais para evitar choques e controle cambial para escapar da especulação predatória, em políticas de promoção das exportações com proteção da indústria local e dos setores estratégicos do país, em reformas de mercado, mas com controle das instituições políticas e culturais, e na centralização das decisões políticas e das estratégias de projeção nacional”. Essa possível mudança, adverte, que levará à “ascensão da Ásia e à emergência do processo de orientalização do mundo, sob liderança chinesa, pode não ocorrer de maneira pacífica diante do declínio relativo dos EUA e do Ocidente. Infelizmente, a Armadilha de Tucídides é como uma espada de Dâmocles suspensa sobre a ordem internacional e a possibilidade de paz mundial”.
José Eustáquio Diniz Alves
José Eustáquio Diniz Alves é doutor em Demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – Ence/IBGE.
Confira a entrevista NO LINK https://outraspalavras.net/outrasmidias/capa-outras-midias/seculo-21-sera-chines-e-asiatico/
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