Milhares de migrantes estão parados na cidade na fronteira do México com os EUA. Em meio a crescente hostilidades, mudança do governo mexicano e uma oferta do Canadá podem prover uma saída.
A caravana de migrantes vindos de países da América Central precisou de quase um mês para atravessar o México. Desde o fim de semana (17-18/11) um grupo avançado de 2.500 peregrinos está acampado num ginásio de esportes em Tijuana.
Apesar de ser bem mais longa, a rota até essa cidade na fronteira dos Estados Unidos foi escolhida por ser mais segura do que a que leva a Matamoros, no Golfo do México, sob o controle dos cartéis do narcotráfico. E como a co-organizadora da caravana, a ONG Pueblos Sin Fronteras, está sediada na Califórnia, ela espera encontrar lá mais tolerância por parte das autoridades com os pedidos de refúgio do que, por exemplo, no ultraconservador Texas.
No entanto a marcha está suspensa exatamente em Tijuana, onde, nos últimos dias, a guarda de fronteira americana reforçou ainda mais a dupla cerca com arame farpado. A caravana está ameaçada de encalhar no gargalo do deserto californiano, e isso sobretudo por razões políticas.
A impressionante proporção da caravana e o eco midiático que encontrou são uma faca de dois gumes: ambos garantem proteção contra ataques e uma certa infraestrutura, mas representam também um flanco político aberto.
Entre outros para o presidente Donald Trump, que continua tuitando loucamente. E nesta segunda-feira mandou fechar a fronteira por diversas horas, a fim de que se reforçassem as instalações com cimento, despertando descontentamento dos milhares que passam de um lado para o outro diariamente.
O prefeito de Tijuana, o conservador Juan Manuel Gastelúm, aderiu ao coro anti-imigrantes trumpista: "Eu não ouso dizer que todos os migrantes sejam assim, mas alguns são vagabundos, maconheiros, estão atacando famílias em Playas de Tijuana, o que é isso?"
Polícia acirra hostilidades
Numa cidade que vive do comércio transfronteiriço e onde os imigrantes são metade de seus 2 milhões de habitantes, tal comportamento pode parecer estranho. Além disso, Tijuana está longe de ser "tranquila", como observou o colunista Carlos Puig no jornal Milenio: "Sob Gastélum, os assassinatos aumentaram fortemente. Em Tijuana, sete pessoas são mortas diariamente, e o descarado prefeito pretende que a calma e segurança estejam ameaçadas pelos migrantes."
Além disso, nessa cidade pela primeira vez a grande solidariedade dos mexicanos deu lugar à hostilidade, com duas pequenas manifestações contra os migrantes nos últimos dias. "Em Tijuana estão sempre chegando grupos de migrantes. Mas o tamanho dessa caravana desperta sentimentos de ameaça", comentou o sociólogo José Moreno Mena ao portal Frontera.
Nos próximos dias são esperados outros 3 mil peregrinos. É um coquetel potencialmente explosivo, pois, antes mesmo da chegada da caravana, as capacidades da cidade de fronteira já estavam praticamente esgotadas. Centenas vão parar lá diariamente, de um lado centro-americanos a caminho dos EUA, do outro mexicanos expulsos dos EUA.
Há alguns "comedores" organizados por voluntários, onde se distribuem refeições, assim como cerca de mil leitos temporários nos abrigos para migrantes das Igrejas. Mas eles são apenas paliativos. Nas ruas do centro, centenas tentam sobreviver dia após dia com miniempregos, vendendo doces, limpando para-brisas, ou transportando mercadorias na feira.
Esperanças no Canadá
Poucos são os que conseguem chegar legalmente aos EUA, cujas autoridades de fronteira só aceitam de 30 a 50 solicitações de refúgio por dia e mantêm uma longa lista de espera.
As chances para os migrantes são parcas, admite o padre Alejandro Solalinde, diretor de um albergue para migrantes e coordenador da pastoral pela mobilidade humana. "Na verdade só há duas opções: ou eles permanecem no México, onde o novo presidente, Andrés Manuel López Obrador, lhes ofereceu trabalho, ou depositam suas esperanças numa ponte aérea e marítima e refúgio no Canadá", comenta.
O arcebispo canadense Leonardo Marin Saavedra foi quem abriu essa possibilidade para os migrantes, na segunda-feira, ao mencionar, no ginásio de esportes em Tijuana, que o governo em Ottawa estava estudando uma proposta nesse sentido. No entanto os traslados não começarão antes do início de 2019, e só para os que forem aceitos pelo Canadá. Até lá, eles frequentam cursos de inglês e treinamento profissional em Tijuana.
Cabe ver se nesse meio tempo a situação seguirá fermentando na cidade mexicana, ou se após algum tempo os centro-americanos vão se dispersar e se integrar, como ocorrido recentemente com uma onda de migrantes haitianos.
Fonte: Deutsche Welle Brasil
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