Entrevista com Denny Júnior Cabral Ferreira, 38 anos, Mestre em Ciências da Religião (PPGCR) - Universidade do Estado do Pará (UEPA), e com Carlos Renato D. dos Santos, geógrafo, formado pela Universidade Federal do Pará, pós graduando em Juventude e em Ensino da Geografia.
Qual o interesse de vocês em fazerem o curso “Mercado Mundial, Estado Nacional, e o futuro incerto na Amazônia no século XXI”?
Denny: Bom, após fazer o curso “Mundos Amazônicos” com a professora Nazaré Imbiriba, ele ainda está sendo finalizado, porém surgiu a oportunidade de fazer “Mercado Mundial” como uma continuidade temática da proposta da professora. Meu interesse e do meu parceiro é de aprofundar a discussão sobre a Amazônia, porque, como acadêmico, entender essa relação da área interdisciplinar. Estudar sobre a Amazônia é um sinal de que a gente pode e deve de forma cinética para juntar opções para transformar nosso ecossistema mais viável, pensar na preservação e na manutenção dessa floresta. Quando eu vim para esse curso, tive o interesse de projetar a visão de onde eu vivo e me tornar um cidadão mais esclarecido e saber mais sobre nossa própria identidade. Também posso afirmar a competência do Programa Trópico em Movimento sobre essa questão. O meu objetivo secundário, como faço parte de uma ONG, que trabalha com a perspectiva de trabalhar uma identidade juvenil dentro da Amazônia, é entender que as juventudes, no plural mesmo, não se correspondem a uma identidade única e como ela se processa dentro da Amazônia.
Renato: Complementando a resposta do Denny, eu faço parte de uma organização de empoderamento juvenil, localizada em Belém, nossa sede é em Ananindeua, nossa organização chama-se: Instituto de Juventude da Amazônia. Temos uma atuação com a juventude nessa região já há algum tempo na nossa trajetória, a organização tem cerca de três anos de trabalho e estamos em fase cartorial, de legalização dela. O inicio dela foi na Pastoral da Juventude, por vários que acompanham o instituto, e é uma forma de ser da igreja que valoriza o jovem como protagonista. Essa lógica do protagonismo não só para jovens católicos ou da Pastoral, como para estar a serviço da região metropolitana de Belém, de discutir o papel da juventude na Amazônia.
Na perspectiva de vocês, qual a importância do curso “Mercado Mundial”?
Renato: Há uma questão muito importante, pois não debate sobre Amazônia, nem o Brasil e muito menos os amazônidas. É uma percepção que eu tenho desde a graduação, por não estudarmos quase nada sobre aqui e sermos um receptáculo de imitações e discussões das coisas que vem de vem fora, acabamos não valorizando o processo regional. Então, os elementos que o professor trás são efetivos desse debate, colocando na lógica do desenvolvimento, na lógica de como os povos da Amazônia podem empoderar-se, é preciso reconhecer os conhecimentos que são da realidade deles, associar esses saberes conosco e fazer com que a Amazônia entre numa lógica de outra perspectiva, sem ser a do reproduzir ou imitar e falar apenas do que vem de fora. Eu acredito que o curso é importante por essa reflexão necessária que os amazônidas precisam fazer. Nós estamos descobrindo diversas coisas com o professor Thomas, essa lógica de desenvolvimento importa para dar um rumo do que é preciso fazer da Amazônia, por ser uma região extramente explorada e dilapidada, tanto do ponto de vista de como se tratam as suas populações e de como é tratado o sistema natural que é especialmente permeado pela Floresta e pelas grandes bacias hidrográficas. Estamos tendo elementos importantes para essa reflexão, como a questão regional dialoga com a Globalização, como a lógica regional dialoga com o cenário nacional, com o Estado, Mercado. Entender que ela precisa emergir, deixar de ser a periferia da periferia, valorizar seu povo, sua cultura, sua natureza, sua identidade.
Quais são os principais obstáculos estruturais para obter um desenvolvimento sustentável na Amazônia?
Denny: Acho que o principal obstáculo é reconhecer que se vive num mundo periférico por imposição e ampliar esse olhar para as suas variadas populações que possuem uma extensa diversidade étnica, cultural e social. Identificar que não se está numa periferia porque se deseja, mas porque ela se impõe diante do cenário internacional, diante de stakeholders, utilizando a região apenas como um modelo exploratório ou reserva para o futuro, num sentido não de desenvolvimento, e sim desenvolvimentista. O segundo obstáculo, diluir as mitologias acerca da Amazônia, uma área que é vista como um “Inferno Verde”, um “Eldorado”, como uma área fosse um vazio demográfico, existem enormes mitos que é preciso derrubar, mas a academia ajuda muito nesse sentido, empoderando seus atores locais. Um terceiro aspecto é reconhecer a vocação que essa região tem para ser protagonista. Quem tem que resolver o problema da Amazônia são os próprios amazônidas, não que os de fora não possam participar ou negar nossas vistas ao mundo, mas as experiências do olhar de fora tem se mostrado desastrosa. Esse terceiro aspecto é superar a posição subalterna e potencializar o protagonismo nato dessa região grandiosa, resultando numa atuação política com todos os atores mostrando a importância dela para o mundo.
Renato: A questão do desenvolvimento sustentável é interessante porque ela se mantém num tripé. Na variável ecológica, a valorização de elementos interessantes da natureza de um determinado local, respeito à natureza e as suas possibilidades. Uma outra variável é o lado social, valorização daquilo que há de bom nos povos e a inclusão delas por meio da cultura e da educação. Se não tiver isso, não há desenvolvimento sustentável. A partir dessas duas variáveis, surge o terceiro aspecto que seria qual a potencialidade econômica disso. Qual o principal desafio? Efetivar essas dimensões. Hoje isso não existe, mas acredito na possibilidade de se criar isso sim. Isso não acontece sem uma tomada de posição política dos amazônidas com consciência desse tripé e de que ele pode ser uma alternativa aos modelos de fora.
Por: Beatriz Ferreira
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