Diante do crescimento do populismo de direita em todo o mundo, Nancy Fraser sustenta: há revolta positiva no ar; é preciso dar-lhe sentido
Entrevista a Shray Mehta | Tradução: Inês Castilho
Quando emergem na cena política personagens como Jair Bolsonaro, parte da esquerda tende a uma atitude defensiva. Em face de um perigo corretamente associado ao fascismo e à violência, seria o caso de preservar a normalidade do sistema institucional, e mesmo de convocar alianças em seu favor. A repercussão que o discurso de ódio encontra entre parcelas amplas da sociedade indicaria que é hora de refrear o passo, até que a onda regressiva se esvazie.
Associada a um marxismo heterodoxo, a filósofa e feminista norte-americana Nancy Fraser julga que esta atitude não afastará o perigo — e pode, ao contrário, torná-lo maior. Uma visão particular sobre o chamado “populismo de direita” a faz pensar assim. As maiorias, crê Fraser, têm boas razões para se revoltar contra a ordem. Ao longo das três últimas décadas, elas foram castigadas, na maior parte dos países, pelo desmonte dos direitos sociais. Em muitos casos, partidos associados à esquerda envolveram-se ativamente neste processo (no Brasil, vale lembrar a adesão do segundo governo Dilma ao “ajuste fiscal” proposto pela direita). Agora, há raiva e rancor. Enxergar os que nutrem estes sentimentos como “fascistas” só agravará o cenário.
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