Dia Mundial do Meio Ambiente: contra a bancada ruralista. Contra a bancada da bala. Contra o agro negócio criminoso. Contra invasões a terras indígenas e quilombolas e luta contra o desrespeito aos parques naturais. A favor de dez filmes sugeridos pelo MST.
Este ano o Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado em 5 de junho desde 1972, adquire significado especial para o Brasil e para todas as populações do planeta. Para os brasileiros, o correto seria chamar tão importante data, atualmente, de Dia da Defesa Sem Trégua do Meio Ambiente já que se luta para resguardá-lo das inaceitáveis agressões, exorbitâncias suicidas, que vêm sendo feitas ao meio ambiente do país desde janeiro deste ano com a ação vergonhosa do atual (des)governo e dos seus ministros responsáveis pelos recentes descalabros ambientais.
Dos nove países que abrangem a região da Amazônia, a qual, mesmo com o controverso conceito de constituir ou não um dos chamados três pulmões do planeta, representa em si mesma um espaço de importância central para a sustentabilidade da Terra, o Brasil foi aquele que mais mudou a legislação vigente indo na contramão da proteção do bioma, de acordo com o estudo The uncertain future of protected lands and waters ( futuro incerto das terras e águas protegidas), da ONG Conservação Internacional.
Lembrando que a Amazônia é uma peça central na redução do efeito estufa e atua, numa imagem simplificada, como um aparelho de ar condicionado protegendo a estabilidade do clima terrestre o qual se encontra, e isto é cada vez mais evidente, em desequilíbrio.
Já as populações do planeta entraram em alerta com o recente resultado, mês passado, das eleições parlamentares da União Europeia, com a imprevisível vitória, um avanço inesperado dos verdes europeus – a maioria deles de esquerda – para trabalhar em Bruxelas na urgente luta pela preservação do ambiente comum e da sustentabilidade da Terra.
Ser ambientalista e trabalhar como um verde, hoje, deixa de ser, como ocorria até então, motivo de zombaria e menosprezo. É lutar pela sobrevivência da espécie humana, pela saúde econômica dos países, pela saúde dos indivíduos e pela justiça social.
Escolhemos chamar a atenção para a data de agora com o corajoso Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST brasileiro, que brindou o público, na sua página, com a sugestão de dez dicas de filmes (dois deles são clássicos do cinema nacional) e vídeos que combatem a idéia distorcida e desonesta do agronegócio e dos slogans Agro e%u001 Tec, Agro e%u001 Pop, Agro e%u001 Tudo.
''É tudo? São estas apenas algumas das ferramentas que o agronegócio utiliza para criar uma verdadeira rede de exploração do meio ambiente e da vida humana. Você conhece este sistema?'', pergunta o MST.
Trata-se de um pequeno guia precioso ''para você entender melhor assuntos como desmatamento, trabalho escravo, latifúndios, agrotóxicos, commodities, bancada da bala, que estão presentes desde o café da manhã até o copo de água antes de dormir'', diz o MST.
A conferir. Para reflexão e ação.
1. O Mundo Segundo a Monsanto (França/Canadá /Alemanha/2007). Documentário dirigido pela francesa Marie-Monique que aborda como uma grande empresa consegue enganar a população mundial, através da mídia e da corrupção dos governos, inserindo seus produtos tóxicos no mercado alimentício. Assista abaixo a versão dublada em português (para a versão legendada, clique aqui):
2. O Veneno está na Mesa - parte I e parte II (Brasil/2014)
O filme clássico de Silvio Tendler abre e fecha com a palavra mágica de Eduardo Galleano. Entre uma e outra, uma série de depoimentos, gráficos e reportagens de TV dão conta dos riscos dos agrotóxicos e das injunções políticas e econômicas que levam a seu uso praticamente compulsório no Brasil, em benefício de multinacionais. Galleano estranha como governos progressistas da América Latina cedem ao envenenamento das lavouras em nome da produtividade e do “deus mercado”. O filme, de 49 minutos, apresenta também uma espécie de “herói orgânico”, um agricultor sintomaticamente chamado Adonai (“Ele, Deus”, em hebraico), que reinventou o milho crioulo no Rio Grande do Sul. Como bom filme de campanha, O Veneno tem sido utilizado até como peça de acusação contra a empresa Monsanto em batalhas judiciais.
Trecho de comentário de Carlos Alberto Mattos sobre o trabalho: ''Dois filmes que vêm mostrar como estamos nos alimentando mal por conta de um modelo agrário baseado no agronegócio. O perigo é tanto para os trabalhadores, que manipulam os venenos, quanto para toda a população do campo e das cidades, que consomem os produtos agrícolas com agrotóxicos. Série de documentários dirigidos por Sílvio Tendler.''
Leia aqui resenha da Parte II publicada em Carta Maior. Assista às duas partes:
3. Rompendo o silêncio (Brasil/2006). No primeiro semestre de 2006, mulheres ligadas ao MST e à Via Campesina, movimento camponês mundial, ocuparam a fazenda da Aracruz Celulose no Rio Grande do Sul, destruíram suas plantações de eucalipto, laboratórios e milhares de mudas. O filme é uma realização do MST, FASE e Rede Alerta Contra o Deserto Verde.
4. Food Inc. (EUA/2009). Documentário dirigido por Robert Kenner aborda a questão de como a cultura do fast-food gerou a concentração da produção agrícola dominada pelo corporativismo e faz uma crítica a esse sistema, que trabalha em busca do aumento da produtividade e do lucro.
5. Cabra marcado para morrer (Brasil/1984). Clássico de Eduardo Coutinho. Retrata a morte de João Pedro Teixeira, líder da Liga Camponesa de Sapé na Paraíba, e as consequências da perseguição política na vida das pessoas que estavam presentes nas primeiras gravações do filme. Em novembro de 2015, o longa entrou na lista da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine) como um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.
6. A Carne é Fraca (Brasil/2015). Dirigido por Denise Gonçalves, o documentário trata dos impactos que o consumo de carne traz. As consequências ambientais, sociais e econômicas.
7. A Lei da Água (Brasil/2015).
O documentário dirigido por André D’Élia mostra como a lei impacta diretamente a floresta assim como a água, o ar, a fertilidade do solo, a produção de alimentos e a vida de cada cidadão. A obra baseia-se em pesquisa e 37 entrevistas com ambientalistas, ruralistas, cientistas e agricultores.
8. A Sombra de um Delírio Verde (Argentina/Brasil/Bélgica/2012). Em meio ao delírio da febre do ouro verde (como é chamada a cana-de-açúcar), as lideranças indígenas Guarani Kaiowá enfrentam o poder local e muitas vezes encontram como destino a morte encomendada por fazendeiros. Documentário dirigido por An Baccaert, Cristiano Navarro e Nicolas Muñoz.
9. Combustível ou comestível (Brasil/2015). Documentário dirigido por Ludmila Ferolla e Giuseppe Bizzarri sobre a produção do etanol, com entrevistas de Roberto Ardenghy, Superintendente da Agência Nacional de Petróleo (ANP); Carlos Lessa, economista, ex-presidente do BNDES e ex-reitor da Universidade Federal do Rio de janeiro e João Pedro Stédile, economista e dirigente do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
10. Soyalism (Itália/2018). Filme italiano dirigido por Stefano Liberti e Enrico Parenti prometido para ser lançado no circuito comercial cinematográfico. Retrata como a China e o sistema do agronegócio ocidental estão assumindo a indústria mundial de grãos e carnes, excluindo os pequenos agricultores e saqueando o meio ambiente.
Vê-se, através dos temas dos filmes que continua sendo o principal da luta verde, desde a Conferência de Estocolmo, de 72, chamarmos a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais e a importância da preservação dos recursos naturais que até então eram considerados inesgotáveis.
Alguns dos principais problemas que afetam o meio ambiente: o descarte inadequado de lixo, o uso desregulado de agrotóxicos como acontece no Brasil atual, falta de coleta seletiva e de implementação de projetos de reciclagem, o consumo exagerado de recursos naturais, desmatamento, inserção de espécies exóticas e descaso pelas nossas espécies em extinção, uso de combustíveis fósseis, desperdício de água e esgotamento do solo.
E como resultado dessa luta verde, acima de tudo, justiça social.
Terra para trabalhadores rurais, respeito e reconhecimento ao seu trabalho e de suas famílias; à sua saúde e sua educação, e alimentação saudável, ar limpo e água potável para as populações rurais e urbanas.
Fonte: Carta Maior
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